
Neste livro, Dom Clemente expõe, com coragem e testemunho, alguns pensamentos elaborados a partir de sua longa experiência pastoral. O autor não pretende atentar contra a fé católica, mas expressa o que muitos bispos pensam e gostariam de dizer acerca de temas ainda tidos como polêmicos ou como tabus dentro da Igreja católica. A vocação sacerdotal não celibatária, o lugar da mulher na Igreja, as ordenações femininas, a nomeação dos bispos com participação popular e a sucessão apostólica estendida a todos os bispos são alguns dos temas sobre os quais Dom Clemente, de forma moderada e equilibrada, expressa seu pensamento.
Trechos da sua entrevista sobre o livro:
"Não nos comportemos como fariseus"
A dedicação de dom Clemente Isnard à Igreja Católica se aproxima de sete décadas. Nesse tempo, ele ssumiu diversas funções. Foi o primeiro bispo de Nova Friburgo, vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), além de ter participado como padre conciliar de todas as etapas do Vaticano II e integrado comissões junto à Santa Sé. O bispo emérito conhece bem os caminhos da Igreja, especialmente no campo litúrgico. Parte desse conhecimento está no livro Viver a liturgia também a ser lançado hoje, no qual reúne uma série de reflexões. Na obra, dom Isnar afirma que à medida que a idade vai chegando, sente-se mais livre para escrever o que pensa. "Gozando de plena liberdade, posso elogiar ou criticar também autoridades eclesiásticas sem considerar cargos ou pessoas", salienta.
Por que escrever sobre temas polêmicos como o celibato e a escolha dos bispos?
Dom Clemente Isnard: Para dar meu testemunho como bispo para o povo.
E como surgiu a idéia da publicação?
Dom Clemente Isnard: Depois da missa de meus 90 anos, na Igreja das Fronteiras, no ano passado. Na homilia, falei dos meus sonhos para a Igreja e depois da celebração padre José Comblin, da Paraíba, pediu para eu escrever. O livro é o resultado.
Alguma autoridade chegou a pedir diretamente para que o senhor desistisse?
Dom Clemente Isnard: Todos os bispos do Regional Leste 1, que reúne as dioceses do Rio de Janeiro, fizeram uma carta me pedindo para não publicar o livro. Eles alegavam que os assuntos poderiam ser mal interpretados e isso seria ruim para a Igreja.
E se o Vaticano chamar o senhor como fez com Leonardo Boff nos anos 80?
Dom Clemente Isnard: Já estou velho, mas vou lá. Repito o que está no livro e outras coisas mais. Tudo farei sobre a luz do Evangelho, que pediu para não nos comportarmos como fariseus.
Trechos do livro
PARTICIPAÇÃO POPULAR
Dom Clemente Isnard: "Sabemos que certas nomeações episcopais são mal acolhidas pelo povo, e com razão. Quando se fala que o leigo de hoje chegou à maturidade, reconhece que é um dever urgente voltar aos costumes do primeiro milênio no que toca à eleição dos bispos (...) Como seria bom e bonito que, no dia marcado, o bispo metropolitano, se reunisse com representantes do clero e do povo e escolhessem todo o futuro bispo."
CELIBATO SACERDOTAL
Dom Clemente Isnard: "Fala-se tanto na falta de sacerdotes, nas paróquias sem padres, nos padres que se secularizaram deixando o ministério. E não se pensa nos padres de valor e que se casaram e que poderiam ter continuado no ministério se a Igreja lhes tivesse concedido matrimônio. Em igrejas orientais católicas os padres podem se casar. Por que não na Igreja Latina?".
SACERDÓCIO FEMININO
Dom Clemente Isnard: "O que dizer das palavras de São Paulo na Epístola aos Gálatas: "quem foi em Cristo, revestiu-se de Cristo. Não é um judeu nem grego; não é servo nem livre; não é macho nem fêmea. Todos vós sois um em Cristo" (3,27s). São Paulo nessa época prega a igualdade.
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