20 de maio de 2013

A liberdade - aulas para o segundo ano do EM



A LIBERDADE na tradição cristã antiga

O tema da liberdade é sem dúvida nenhuma, um dos mais refletidos na história da filosofia. Muitos filósofos falaram a este respeito.
Se tentarmos fazer uma história deste tema na filosofia, vamos remontar, por exemplo, no mito da criação do mundo, mais precisamente com a história bíblica de Adão e Eva.
Como sabemos Adão e Eva viviam tranquilos num estado de harmonia perfeita no paraíso. Se olharmos filosoficamente eles viviam até dentro de uma ingenuidade. Com o passar do tempo e da história bíblica, Adão e Eva desobedecem ao seu criador e vão até a árvore da ciência (árvore do mal) e são seduzidos para poderem infringir a lei divina. Neste momento, esses primeiros humanos se tornam necessariamente humanos, pois eles optaram por desobedecer. Alguns poderiam dizer que eles não foram livres, pois foram enganados por uma serpente. Ora, mesmo se você opta por fazer algo induzido por outro, o ato de fazer é de responsabilidade da pessoa – então foram livres.
Agostinho de Hipona ( 354-430), refletiu sobre este relato bíblico e afirmou que essência do ser humano é ter a faculdade do livre-arbítrio. Deus criou o ser humano livre, portanto, tudo que o ser humano faz é de responsabilidade do ser humano. Tirar dos seres humanos a responsabilidade para seus atos ruins e transferi-los para entendidas do mal é uma pura irresponsabilidade. Portanto, para Agostinho, Adão e Eva foram livres para pecar, portanto, se utilizaram do livre-arbítrio. “Deus não é a fonte dos males...eles existem devido ao pecado voluntário da alma. À qual Deus deu livre escolha.
Portanto, o ser humano é um ser falho na concepção de Agostinho, pois a todo o momento estamos inclinados a fazer o mau, pela nossa herança pecaminosa de Adão e Eva. Neste sentido, o ser humano é e somente ele, responsável por tudo o que ele faz.
Indo um pouco mais a fundo, para Agostinho o Mal não existe, pois tudo o que Deus criou é perfeito. Mas como fica a questão das maldades que vemos a todo momento? Ora, mais uma vez Agostinho justiça a Deus e coloca a responsabilidade em cima do ser humano...no fundo o mal não existe é apenas a ausência do bem. 

A LIBERDADE COMO QUESTÃO FILOSÓFICA
Filosoficamente, a questão da liberdade se apresenta na forma de dois pares de opostos: o par necessidade-liberdade, o par contigência-liberdade.
O par necessidade-liberdade também pode ser formulado e termos religiosos, como fatalidade-liberdade, e em termos científicos, como determinismo-liberdade.
Conceitos
Necessidade: é o termo empregado para referir-se ao todo da realidade, existente em si e por si, que age sem nós e nos insere em sua rede de causas e efeitos, condições e consequências. Exemplo: ato de sentir sede, fome, sono, etc.
Fatalidade: é o termo usado quando pensamos em forças transcendentes superiores às nossas e que nos governam, quer o queiramos, quer não. Exemplo: intervenção Divina ou de forças maléficas.
Determinismo: é o termo empregado, a partir do século XIX, para referir-se às relações causais necessárias que regem a realidade conhecida e controlada pela ciência e, no caso da ética, para referir-se ao ser humano como objeto das ciências naturais.
O  par contingencia-liberdade também pode ser formulado pela oposição acaso-liberdade. Contingência ou acaso significam que a realidade é imprevisível e mutável, impossibilitando deliberação e decisão racionais, definidoras da realidade. Num mundo onde tudo acontece por acidente, somos como um frágil barquinho perdido num mar tempestuoso, levado em todas as direções ao sabor das vagas e dos ventos.
Necessidade, fatalidade, determinismo significam que não há lugar para a liberdade, porque o curso das coisas e de nossa vida já está fixado, sem que nele possamos intervir. Contingência  e acaso significam que não há lugar para a liberdade, porque não há curso algum das coisas e de nossa vida sobre o qual pudéssemos intervir. 

AS CONCEPÇÕES DE ARISTÓTELES E DE SARTRE
A primeira grande teoria filosófica da liberdade é exposta por Aristóteles em sua obra Ética a Nicômaco e, com variantes, permanece através dos séculos chegando até o século XX, quando foi retomada por Sartre. Nessa concepção, a liberdade se opõe ao que é condicionado externamente (necessidade) e ao que acontece sem escolha deliberada (contingência).
Afirma Aristóteles: que é livre aquele que tem em si mesmo o princípio para agir ou não agir. A liberdade é concebida como o poder pleno e incondicional da vontade parra determinar a si mesma, isto é, para autodeterminar-se. É pensada, também, como uma capacidade que não encontra obstáculos para se realizar nem é forçada por coisa alguma para agir. Trata-se da espontaneidade plena do indivíduo.
Muitos filósofos que vieram depois de Aristóteles, disseram que a inteligência inclina a vontade para uma certa direção, mas não a obriga nem a constrange, tanto assim que podemos agir na direção contrária à indicada pela inteligência ou razão. É por ser livre e incondicionada que a vontade pode seguir ou não os conselhos da consciência. A liberdade será ética quando o exercício da vontade estiver em harmonia com a direção apontada pela razão.
Em sua obra O Ser e o Nada, o filósofo francês Jean Paul Sartre levou essa concepção ao ponto limite. Para ele, a liberdade é a escolha incondicional que o próprio homem faz de seu ser e de seu mundo.
Quando julgamos estar sob o poder de forças externas mais poderosas do que nossa vontade, esse julgamento é uma decisão livre, pois outros homens, nas mesmas circunstancias, não se curvaram nem se resignaram (conformar com a situação).
Em outros termos, para Sartre, conformar-se ou resignar-se é uma decisão livre, tanto quanto não se resignar nem se conformar, lutando contra as circunstancias. Quando dizemos que não podemos fazer alguma coisa porque estamos fatigados, a fadiga é uma decisão nossa, tanto assim que uma outra pessoa, nas mesmas circunstancias, poderia decidir na se sentir cansada e agir.
Por isso, Sartre faz uma afirmação aparentemente contraditória, dizendo que “estamos condenados à liberdade”. Qual a contradição? Identificar liberdade e condenação, isto é, dois termos incompatíveis, pois é livre quem não está condenado.
O que Sartre pretende dizer? Que, para os humanos, a liberdade é como a necessidade e a fatalidade, não podemos escapar dela. É ela que define a humanidade dos humanos, sem escapatória. 


Fonte: Resumo de aulas do professor Marcos Martins César, filósofo

Continuação da aula sobre empirismo e introdução a filosofia da ciência - lógica. Primeiro ano do EM



John Locke (1632-1704)
Sua teoria: Tábula Rasa – Locke combateu duramente a doutrina cartesiana segundo a qual o ser humano possui ideias inatas. Ao contrário de Descartes, defendeu que nossa mente, no instante do nascimento, é como uma tábula rasa.
O substantivo tábula significa “tábua” ou “placa” de madeira ou de outro material; o adjetivo rasa que dizer “plana”, “lisa”. Assim, a expressão tábula lisa, isto é, tábua na qual nada foi escrito nem gravado. Ao nascer, nossa mente seria como um papel em branco, sem nenhuma ideia previamente escrita.
Locke retomava, assim, a tese empirista segundo a qual nada existe em nossa mente que não tenha sua origem nos sentidos – olfato, paladar, audição, visão e tato. O filósofo defendeu que as ideias que possuímos são adquiridas ao longo da vida mediante a experiência sensível imediata e seu processamento interno.
DOIS TIPOS DE IDEIAS
Ideias da sensação: são nossas primeiras ideias, aquelas que chegam à mente através dos sentidos, isto é, quando temos uma experiência sensorial, constituindo as sensações. Essas ideias seriam moldadas pelas qualidades próprias dos objetos externos. Por sensação Locke entende, por exemplo, as ideias de amarelo, banco, quente, frio, mole, duro, amargo, doce, etc.
Ideias da reflexão: são aquelas que resultam da combinação e associação das sensações por um processo de reflexão, de tal maneira que a mente vai desenvolvendo outra série de ideias que não poderiam ser obtidas das coisas externas. Seriam ideias como a percepção, o pensamento, o duvidar, o crer, raciocinar.
CONCLUSÃO
O filósofo admitia, no entanto, que nem todo conhecimento limita-se, exclusivamente, à experiência sensível. Considerava, por exemplo, o conhecimento matemático válido em termos lógicos, embora não tivesse como base a experiência sensível. Nesse sentido, Locke não era um empirista radical.

DAVID HUME (1711-1776)
Hume ao contrário de Locke, foi um empirista radical. Ele formulou outra teoria empirista. Dividiu primeiramente, tudo aquilo que percebemos em:
Impressões: referem-se aos dados fornecidos pelos sentidos, com os impressões visuais, auditivas, táteis;
Ideias: referem-se às representações mentais (memória, imaginação, etc.) derivadas das impressões.
Assim, toda ideia é uma re (a)presentação de alguma impressão. Por exemplo: quando eu falo em uma árvore, no fundo estou usando aquilo pelo qual tive a experiência por meio da impressão. Essa representação pode possuir diferentes graus de fidelidade. E alguém que nunca teve uma impressão visual – um cego de nascença, por exemplo – jamais poderá ter uma ideia de cor, nem mesmo uma ideia pouco fiel.

CRÍTICA A INDUÇÃO
Entendemos por indução, ou raciocínio indutivo todo pensamento que vai de uma realidade particular para uma realidade geral. Por exemplo: quando eu digo que todos os cines são brancos, é porque eu vi particularmente um cisne branco no mês passado, na semana passada, ontem e hoje, portanto, concluo que todos os cisnes são brancos. As conclusões indutivas são produzidas, assim, pelo seguinte processo mental: partindo de percepções repetidas que nos chegam da experiência sensorial, saltamos para uma conclusão geral, da qual não temos experiência sensorial. Isso quer dizer que ao afirmar que todos os cisnes são brancos, no fundo eu apenas tirei uma conclusão dos cisnes brancos que eu vi. Quem me prova que em outro lugar, não há um cisne negro?  Isso levaria a minha conclusão que todos os cines são brancos ao erro.
Hume argumentou que a conclusão indutiva, por maior que seja o número de percepções repetidas do mesmo fato, não possui fundamento lógico. Será sempre um salto do raciocínio impulsionado pela crença ou hábito, isto é, as reiteradas percepções de um fato nos levam a confiar em que aquilo que se repetiu até hoje irá se repetir amanhã. Assim, por exemplo, cremos que o Sol nascerá amanhã porque até hoje ele sempre nasceu. Mas, em termos lógicos, nada pode garantir essa certeza.

CRÍTICA A CIENCIA
Ao questionar a validade lógica do raciocínio indutivo, a obra de Hume deixou um importante problema para os teóricos do conhecimento. Afinal, é ou não possível partir de experiências particulares para chegar a conclusões gerais, representadas pelas leis científicas?
Enquanto o senso comum acredita que por meio de observações repetidas, realizadas no passado, podemos justificar nossas expectativas futuras, Hume sustentou que a repetição de um fato não nos permite concluir, em termos lógicos, que ele continuará a se repetir da mesma forma, indefinidamente.
Desse modo, o filósofo revelou um ceticismo teórico, pois, para ele, o conhecimento científico que ostenta a bandeira da mais pura racionalidade – também está ancorada em bases não racionais, como a crença e o hábito intelectual.
Isso significa que, desconfiando das posições arraigadas pela força do hábito, o cientista deveria apresentar suas teses como probabilidades, e não como certezas irrefutáveis.

FILOSOFIA E A CIENCIA
CRITÉRIO DA REFUTABILIDADE
O filósofo da ciência Karl Popper (1902-1994), deu uma grande contribuição para a filosofia, tirando a estigma de que a ciência tem a última palavra.
Popper, criticou o critério da verificabilidade e propôs como única possibilidade para o saber científico o critério da refutabilidade ou de falseabilidade.  De acordo com este critério, uma teoria mantém-se como verdadeira até que seja refutada ou falseada, isto é, até que seja demonstrada sua falsidade, suas brechas, seus limites. Para Popper, nenhuma teoria científica pode ser verificada empiricamente pelo método indutivo.
Com essa afirmação, Popper, indicou a condição transitória da validade de uma teoria, ou seja, determinada teoria é válida até o momento em que é refutada, mostrando-se sua falsidade.

A LÓGI CA- NOÇOES BÁSICAS DE LÓGICA CLÁSSICA
Desde a Grécia antiga filosofar significa buscar a sabedoria por meio do uso metódico da razão. Aos filósofos interessa a formulação de raciocínio que cheguem a resultados verdadeiros, e não falsos. Por isso, diversos pensadores lançaram-se à tarefa de analisar as estruturas dos raciocínios, organizando-as e classificando-as. Foi assim que nasceu a lógica.
O que é lógica?
Ciência que tem por objetivo determinar, por entre todas as operações intelectuais que tendem para o conhecimento do verdadeiro, as que são válidas, e as que não são. Ou, simplesmente, ciência da forma (ou estrutura) do pensamento. Assim, a lógica preocupa-se com o aspecto formal de um raciocínio ou argumento, formulando regras do pensamento correto.

ALGUMAS DEFINIÇÕES
Conceito: noção ou representação mental de um objeto.
Termo: expressão verbal ou linguística ( em palavras) de um conceito
Exemplo: Sócrates, mortal, homem, mulher, casa, bola, José, etc.
Extensão e compreensão
Quando examinamos um termo, devemos considerar sua:
Compreensão: conjunto de predicados que um indivíduo deve possuir para ser designado por esse termo. Refere-se, portanto, às qualidades do ser designado.
Exemplo ( com o termo ser humano): animal, vertebrado, mamífero, bípede, racional, etc.
Extensão: conjunto de indivíduos aos quais se pode aplicar esse termo. Refere-se, portanto, à quantidade de seres por ele designados.
Exemplo (com o termo ser humano): você, eu, João, Maria, Pedro, Paulo, etc. (enfim, toda espécie humana).



Fonte: Resumo de aulas do professor Marcos Martins César, filósofo.

12 de janeiro de 2013

A FELICIDADE NA CONTEMPORANEIDADE



“Uma andorinha sozinha não faz verão.”(Aristóteles – Ética à Nicômaco)

Vivemos em tempos em que tudo o que você mais precisa está dentro de você. Explico melhor. Tudo o que você é, pretende ser, buscar ser ou ainda virá a ser só dependerá do seu único esforço.
Você é demais! Você é um vencedor! Você pode!
Caro leitor, seja sincero, você já se pegou a fazer esta autoafirmação de si mesmo?
Ora, lógico que sim. Afinal, somos a todo o momento bombardeado por propagandas de autoajuda, livros de autoajuda ou ainda, receitas de autoajuda.
Sinceramente, não tenho nenhum problema em afirmar categoricamente que tudo isso não passa de uma tremenda “balela”, interessado apenas em seu bolso.....pois é, autoajuda custa dinheiro e dinheiro anda de mão dada com a felicidade. Mas será que anda?
Para muitos, felicidade é estar de carro novo, de roupa nova, de ser o último ganhador da megassena da virada, etc e tal.
Quanta insensatez!
A verdadeira felicidade diria Aristóteles não comunga com nada daquilo que escrevemos até agora. Ser feliz é levar uma vida de acordo com aquilo pelo qual nós fomos criados. Calma, explico melhor. Para o grande filósofo Aristóteles, todos nós, temos uma finalidade comum que é buscar fazer o bem e consequentemente ser feliz.
Portanto, ser feliz não é ter e sim saber o que fazer com o que tem.
Parece fácil seguir esta máxima não? Mas não é. Basta verificar a quantidade de pessoas que compram sem parar e mesmo assim vivem infelizes. Sabe qual é o fim? Consultórios de psicanálise e psiquiátrico.
Áh! Quer ser feliz? Seja psicólogo, psicanalista ou psiquiatra......por conta da imensidão de livros de autoajuda, esses profissionais estão a todo vapor.
Então meus caros, não se iludam. Ser feliz não é ficar a todo o momento se autoafirmando o “todo poderoso”, rindo atoa como hienas famintas por futuros sucessos.
Ser feliz é tornar sua vida próspera.  É assegurá-la que ela possa ser próspera em todas as atividades.
Concluindo este pequeno ensaio, ser feliz é ser um indivíduo realizado em tudo, praticando virtudes, sendo moderados em tudo, gozar, porque não de boa sorte e ter como meta levar esta disciplina até o fim da vida.
E o título senhor autor? Áh, sim...é moda afirmar que você pode ser feliz sozinho. Quanta imbecilidade. Ninguém se faz sozinho. A felicidade começa antes de tudo na comunhão dos iguais.
Ainda tem lugar para tudo isso nos dias de hoje?
Tirem suas conclusões meus caros.

Fonte: Marcos Martins César, filósofo e teólogo. Professor de filosofia.

3 de setembro de 2012

Filosofia para todos nós

Capa 746 (Foto: divulgação)

Com textos de autoajuda leves e eruditos, repletos de referências aos grandes pensadores, o suíço Alain de Botton quer nos ensinar a viver melhor


No vocabulário de qualquer pensador que tenha a intenção de ser levado a sério por seus pares, a expressão autoajuda é um grande tabu. A enorme quantidade de livros com conselhos infalíveis para ser feliz, perder peso e ficar rico, combinada à ínfima percentagem de leitores que de fato se tornam milionários, magros e felizes depois de terminar a leitura, fez com que o gênero caísse em descrédito nas últimas décadas e seus autores fossem considerados como meros aproveitadores pelos círculos acadêmicos e literários. Por isso, muitos dos que formam nesse exército renegam a bandeira. O americano Tim Ferriss, que oferece a seus leitores conselhos para fazer fortuna trabalhando apenas quatro horas por semana, define seus livros como textos de lifestyle design (design de estilo de vida). No Brasil, o best-seller Augusto Cury se irrita quando o chamam de autor de autoajuda. Seus livros, segundo ele, são obras de “psicologia aplicada”. Para compensar a atitude desses desertores envergonhados, o gênero conseguiu um forte reforço em suas fileiras. Aos 42 anos, com livros publicados em mais de 30 países, o filósofo suíço Alain de Botton é um dos poucos intelectuais capazes de assumir, sem medo do desdém alheio, que seus livros são obras de autoajuda. O que o separa de outros autores é a proeza de agradar a milhões de leitores com seus conselhos sem perder o respeito da crítica.

Para Botton, o problema não é a autoajuda em si, mas a quantidade de autores ruins que se dedicam ao gênero. “A maioria dos livros de autoajuda é escrita por americanos sentimentais e moralistas, que prometem a seus leitores a vida eterna e riquezas incontáveis”, disse Botton, em entrevista a ÉPOCA. “É por isso que a elite cultural presume que apenas pessoas estúpidas leem esses livros.” Para ele, quando se examina a rica tradição dos escritores que ensinam a viver, que vem pelo menos desde Roma, o panorama muda. “A maior parte de nós admite secretamente que atravessar a vida não é uma tarefa tão fácil, e pode ser útil tirar lições de algum lugar. Por mais de 2 mil anos, grandes filósofos se dedicaram a obras que podem ser lidas como textos de autoajuda. O filósofo estoico Sêneca dava conselhos aos romanos para lidar com a raiva. As Meditações, do filósofo romano Marco Aurélio, estão entre os melhores textos de autoajuda já escritos. Em uma cultura que dá valor a obras como essas, as pessoas cometerão menos erros.” Inspirado em Sêneca e Marco Aurélio, pensadores que usaram sua sabedoria para iluminar questões mundanas do cotidiano e melhorar a vida de seus leitores, Botton construiu sua carreira de filósofo pop.
Seus textos leves e eruditos usam a filosofia e a literatura para abordar temas como a felicidade no trabalho, a preocupação com o dinheiro e a satisfação sexual. Ele faz sucesso desde o primeiro livro, Ensaios de amor, lançado quando tinha apenas 23 anos. A obra seguinte, Como Proust pode mudar sua vida, que usa a vida e a obra do escritor francês Marcel Proust como base para uma série de conselhos para viver melhor, transformou-o numa celebridade mundial. Os livros de Botton receberam elogios de publicações de prestígio, como o jornal The New York Times e a revista The New Yorker, que raramente levam esse tipo de literatura a sério. A repercussão positiva rendeu convites para palestras ao redor do mundo, em eventos incensados como o TED, um seminário americano que convida especialistas em diversos campos do conhecimento a dar palestras curtas veiculadas pela internet.
O lançamento da coleção The school of life (A escola da vida), que chega às livrarias brasileiras na próxima semana, pela editora Objetiva, é o projeto literário mais ousado de Botton. Com a ambição de atender às necessidades de “uma época confusa, em que o livro de autoajuda implora para ser repensado e adaptado”, a coleção reúne seis obras. A intenção de cada uma delas fica clara nos títulos: Como se preocupar menos com o dinheiroComo viver na era digitalComo manter a mente sãComo encontrar o trabalho da sua vidaComo mudar o mundo e Como pensar mais sobre sexo. Apenas o último é escrito por Botton. Os outros cinco foram elaborados por outros autores, escolhidos por ele após a definição dos temas. Todos trabalharam sob sua supervisão (...)

Colaboração: Rodney