3 de julho de 2008

"Deus já não é necessário para explicar a exuberância das formas de vida"

Comentando os 150 anos de evolução, o jornal Folha de S. Paulo, 01-07-2008, afirma, em editorial, que “todos os seres vivos do planeta, da rainha da Inglaterra ao mais humilde organismo unicelular, possuem um ancestral comum. Deus já não é necessário para explicar a exuberância das formas de vida. A biologia pôde enfim tornar-se uma ciência, que prescinde de causas sobrenaturais”.

Eis o editorial.

Há exatos 150 anos, numa saleta da Sociedade Lineana de Londres, um grupo de naturalistas anunciava ao público ali presente os contornos de uma teoria que alteraria para sempre o modo de compreender a origem e a variedade da vida em nosso planeta. Era a teoria da evolução por seleção natural, concebida de forma independente por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace.

O real alcance dessa idéia -uma das mais importantes do pensamento ocidental-, passou quase despercebido na ocasião. Os próprios naturalistas presentes no evento não pareciam mais interessados nos trabalhos de Wallace e Darwin do que nos outros itens da pauta da reunião, que incluía a leitura de uma carta "sobre a vegetação em Angola" e a descrição de um novo gênero da família das abobrinhas.

Os teólogos, porém, não demoraram muito a dar-se conta do tamanho da revolução darwiniana. Pequenas variações entre indivíduos surgidas ao acaso e selecionadas pelo ambiente - os mais aptos tendem a ter mais descendentes, com características parecidas- podem, ao longo de eras, produzir novas espécies. Todos os seres vivos do planeta, da rainha da Inglaterra ao mais humilde organismo unicelular, possuem um ancestral comum. Deus já não é necessário para explicar a exuberância das formas de vida. A biologia pôde enfim tornar-se uma ciência, que prescinde de causas sobrenaturais.

A idéia é tão perturbadora que mesmo hoje ainda não é bem aceita. É provavelmente a tese científica mais atacada de todos os tempos. Seus detratores tentam desqualificá-la descrevendo-a como "apenas uma teoria", que estaria no mesmo plano epistemológico de "concorrentes" como o design inteligente e o relato bíblico do Gênesis.
É claro que tudo em ciência é "apenas" uma teoria - aí incluída a gravitação universal. A evolução, mais ou menos como Darwin e Wallace a postularam, segue firme e produtiva. É capaz de explicar fenômenos como a resistência de bactérias a antibióticos e tem gerado novos e promissores campos de investigação, como a farmacogenética.

É uma lástima que, 150 anos após sua primeira exposição, a teoria e os fatos da evolução ainda sejam tão incompreendidos.


Fonte: Unisinos

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