6 de março de 2009

Hoje sexta-feira Filósofos enfrentam-se na Capital em debate sobre religião e ciência

Política em Três Tempos -Por Paulo Queiroz


1 – ANJOS CAÍDOS Uma das mais antigas questões que a humanidade vem se colocando desde que se descobriu pensante diz respeito ao sentido da vida. Por que estamos neste mundo? Quem ou o que o fez? De onde viemos e para onde vamos? Por que existe algo e não nada? De uma forma ou de outra, individualmente ou nos grupos sociais, tais questões já foram objetos de intensas reflexões, temores, confrontos, desespero e, nessa linha, o que mais se possa imaginar.

Há milhares de anos que as religiões, as artes, as ciências vêm procurando respostas para tais perguntas e, quanto mais a espécie humana avança em conhecimentos, mais essas questões se aprofundam e as respostas plenas parecem ficar cada vez mais escorregadias e distantes. Já nos consideramos, ao longo da História, o "centro de um universo infinito”, até que Copérnico e Galileu derrubaram essa certeza. Estávamos apenas um pouco abaixo dos “anjos”, quando Darwin abalou essa convicção e nos remeteu para a companhia, superior ainda (menos mal?), dos macacos.

E nos imaginamos com uma “alma livre” a nos dirigir, quando Freud colocou isso sob suspeita ao identificar, em nós, um “porão tenebroso”, um “irracional” superior ainda (que alívio?). Para se ter uma idéia do quanto tropeçamos em busca de respostas para nossas inquietações, informe-se que, em meados do século XVII, o bispo irlandês James Ussher finalmente anunciava ao mundo que o universo fora criado na noite de domingo, 23 de outubro do ano 4004 a.C. Chegara a essa bombástica conclusão correlacionando histórias das escrituras sagradas e estudando a sua cronologia. Em compensação, lá na frente, outro homem da fé cristã, o belga Georges Lemaître, padre dominicano, apareceu nas manchetes dos principais jornais do mundo, em maio de 1931, sugerindo que, há bilhões de anos, um único átomo, que continha toda a energia, foi o princípio do universo. Nem o próprio Einstein, em cujas espantosas teorias Lemaître se apoiara, acreditou no enunciado - depois popularizado como teoria do Big Bang.

2 – HAJA RELIGIÃO Entre os dois anúncios ocorreu uma modificação abissal na atitude dos homens com relação à ciência e à religião. Quando o eminente bispo Ussher anunciou suas conclusões, a Inquisição tinha processado e condenado Galileu pelas suas opiniões sobre a natureza do mundo e apoio às teses de Copérnico. No anúncio de 1931 é um (padre) cientista que especulava sobre a origem do universo sem levar em consideração o que dizia a “Bíblia” e nem dar satisfações a tribunal algum. Mais manchetes ecoariam no decorrer do século 20 anunciando novos sucessos da ciência: teoria da matéria baseada em partículas subatômicas, confirmação do Big Bang pela descoberta da radiação cósmica de fundo, bizarrias quânticas, descoberta de mais elos na cadeia evolutiva do macaco ao homem, descoberta do DNA e muitos outros avanços, que ampliaram consideravelmente nosso conhecimento sobre o universo, a vida e o homem. A ciência tornou-se a vedete do século, parecendo roubar a cena da religião numa progressão asfixiante até fazê-la sufocar e desaparecer. E, no entanto, deu-se o contrário. Numa passada pela Internet fica-se sabendo que, segundo o Instituto para o Estudo da Religião Americana, a cada ano surgem de 3 a 4 mil novas religiões em todo o mundo. Embora cerca de dois terços não resistam nem um ano, mesmo assim estima-se que exista algo em torno de 60 mil religiões mundo afora, sendo que mais da metade delas são variações do Cristianismo. Esse número é ainda mais impressionante quando se constata que, no mundo inteiro, existem apenas cerca de uma dúzia de religiões que podem ser consideradas globais, incluindo nesse grupo o próprio Cristianismo, além do Islamismo, Judaísmo, Budismo e Hinduísmo. Que dizer, por mais que pareça tentadoramente elegante especular que todos os credos possam ser originários da precariedade intelectual, do medo atávico da solidão e da morte e da alienação consentida, não há como não reconhecer que a ciência e a religião são, na verdade, duas dimensões fundamentais da humanidade.

3 – FÉ E RAZÃO É por esses caminhos que vai passar a aula inaugural do curso de Filosofia da Faculdade Católica de Rondônia (FCR), nesta sexta-feira (06), a partir das 19h, no auditório do Colégio Maria Auxiliadora, em Porto Velho. Sob a mediação do arcebispo D. Moacir Grechi (doutor em Filosofia e chanceler da FCR) e Fábio Hecktheuer (doutor em Filosofia e diretor da FCR), os filósofos Giovanni Mendonça Lunardi (mestre da Universidade Federal de Rondônia – Unir) e Valdecir Cordeiro (padre, mestre em Teologia e professor da FCR) vão debater o tema “São Paulo e Darwin: Os Limites da Condição Humana”. Tudo a ver. Mais do que para simbolizar um confronto entre fé e razão, São Paulo e Charles Darwin estão aí para ser lembrados – o apóstolo pelo transcurso do “Ano Paulino”, que vai até 29 de junho (dia de São Pedro e São Paulo) e marca a passagem dos 2 mil anos do seu nascimento. O cientista pela celebração dos 200 anos do seu nascimento e o 150º aniversário da publicação do livro "A Origem das Espécies", que traça as bases da teoria da evolução pela seleção natural. Por sinal, numa série de conferências que teve início dia 03 passado e vai terminar neste sábado (07), Santa Sé está realizando, na Cidade do Vaticano, um congresso com especialistas do mais alto nível, que, ao se ocupar justamente das idéias de Darwin – “Evolução Biológica, Fatos e Teorias” é o tema - busca mostrar a fé e a ciência como complementares e não como incompatíveis, com o propósito de restabelecer este diálogo na diversidade. Lá, segundo notícia sobre o evento, cientistas, teólogos e filósofos especialistas de diferentes universidades do mundo falarão da relação entre ciência, teologia e filosofia, expondo como cada uma destas áreas representa um campo diferente do saber. Aqui, como informam os mestres Valdecir Cordeiro e Giovanni Lunardi, pretende-se propor uma reflexão filosófica que ressalte a colaboração tanto da ciência como da teologia, mostrando os pontos de convergência que podem ser integrados.

Colaborador: Rodney

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