"Menino, você entende a linguagem diplomática da Igreja? O que o Núncio acabou de dizer é que o papa está para morrer".
Com esse alerta, em tom amigável, D. Helder Camara introduziu o recém nomeado bispo de Juazeiro da Bahia, D. José Rodrigues, no mundo da linguagem diplomática do Vaticano. O Núncio acabara de anunciar numa assembléia geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ainda na década de 70, que "o papa Paulo VI estava muito bem de saúde e mandara um grande abraço a todos os bispos brasileiros". De fato, poucos dias depois, Paulo VI veio a falecer.
Esses dias a CNBB lançou uma nota pública diante da excomunhão que o arcebispo de Recife prometera aos familiares que permitiram e aos médicos que realizaram um aborto em uma menina de 9 anos em Recife. Nas entrelinhas, a CNBB defendeu o princípio da vida - sempre vai defender -, mas em nenhum momento referendou a excomunhão. Já era a primeira reação da CNBB diante da avalanche de críticas nacionais e internacionais que vieram a partir da atitude pastoral do referido arcebispo, considerada por muitos um desastre.
Toda presidência da CNBB estava em Roma para um simpósio sobre "O Bem Comum e a Escassez de Recursos", convocada pelo Conselho Episcopal Latinoamericano (CELAM) em parceria com a MISEREOR, entidade católica da Alemanha que atua na questão social em todo o mundo. Diante de tantas críticas estampadas até nos jornais da Itália, como o "Corriere Della Sera", os bispos fizeram uma nota sutil, mas suficiente para a grande mídia captar e contrapor a opinião da CNBB ao arcebispo. Um dos e-mails enviados a CNBB dizia:"me excomunguem, será uma honra ser excomungado por essa Igreja".
Finalmente, nessa semana, a presidência da CNBB veio a público para dizer que "não houve excomunhão, mas que o bispo teria dito que, em caso de aborto, a excomunhão é possível".
Valeu a costura política e diplomática da CNBB. Reverteu, ao menos em parte, um desastre mais profundo. Afinal, a CNBB não tem poder de interferir nas dioceses particulares, embora o mundo laico pense que sim. Cada bispo deve obediência somente ao Papa. Porém, dessa vez, prevaleceu o senso do colegiado, até porque a reação veio para cima da CNBB. Foi uma costura da sabedoria adquirida em mais de dois mil anos de história. Muito mais, a prevalência do sentido da misericórdia, afinal, Deus é misericórdia. Como dizia um bispo brasileiro nos corredores do simpósio em Roma, "em casos escabrosos como esse é melhor entregar à misericórdia de Deus".
Esses dias, diante do caso Williamson, da suspensão de ordem do Pe. Luís Couto na Paraíba, da excomunhão prometida aos envolvidos no caso do aborto, esse recuo alcançado pela CNBB joga um pouco de luz sobre esses casos tão constrangedores. Afinal, a CNBB continua sendo referência para grande parte da sociedade brasileira que luta por um Brasil mais justo e equânime.
"Menino, você entende a linguagem diplomática da Igreja". Pelo menos essa agora da CNBB a gente entende, afinal, a misericórdia é a linguagem do próprio Deus.
Com esse alerta, em tom amigável, D. Helder Camara introduziu o recém nomeado bispo de Juazeiro da Bahia, D. José Rodrigues, no mundo da linguagem diplomática do Vaticano. O Núncio acabara de anunciar numa assembléia geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ainda na década de 70, que "o papa Paulo VI estava muito bem de saúde e mandara um grande abraço a todos os bispos brasileiros". De fato, poucos dias depois, Paulo VI veio a falecer.
Esses dias a CNBB lançou uma nota pública diante da excomunhão que o arcebispo de Recife prometera aos familiares que permitiram e aos médicos que realizaram um aborto em uma menina de 9 anos em Recife. Nas entrelinhas, a CNBB defendeu o princípio da vida - sempre vai defender -, mas em nenhum momento referendou a excomunhão. Já era a primeira reação da CNBB diante da avalanche de críticas nacionais e internacionais que vieram a partir da atitude pastoral do referido arcebispo, considerada por muitos um desastre.
Toda presidência da CNBB estava em Roma para um simpósio sobre "O Bem Comum e a Escassez de Recursos", convocada pelo Conselho Episcopal Latinoamericano (CELAM) em parceria com a MISEREOR, entidade católica da Alemanha que atua na questão social em todo o mundo. Diante de tantas críticas estampadas até nos jornais da Itália, como o "Corriere Della Sera", os bispos fizeram uma nota sutil, mas suficiente para a grande mídia captar e contrapor a opinião da CNBB ao arcebispo. Um dos e-mails enviados a CNBB dizia:"me excomunguem, será uma honra ser excomungado por essa Igreja".
Finalmente, nessa semana, a presidência da CNBB veio a público para dizer que "não houve excomunhão, mas que o bispo teria dito que, em caso de aborto, a excomunhão é possível".
Valeu a costura política e diplomática da CNBB. Reverteu, ao menos em parte, um desastre mais profundo. Afinal, a CNBB não tem poder de interferir nas dioceses particulares, embora o mundo laico pense que sim. Cada bispo deve obediência somente ao Papa. Porém, dessa vez, prevaleceu o senso do colegiado, até porque a reação veio para cima da CNBB. Foi uma costura da sabedoria adquirida em mais de dois mil anos de história. Muito mais, a prevalência do sentido da misericórdia, afinal, Deus é misericórdia. Como dizia um bispo brasileiro nos corredores do simpósio em Roma, "em casos escabrosos como esse é melhor entregar à misericórdia de Deus".
Esses dias, diante do caso Williamson, da suspensão de ordem do Pe. Luís Couto na Paraíba, da excomunhão prometida aos envolvidos no caso do aborto, esse recuo alcançado pela CNBB joga um pouco de luz sobre esses casos tão constrangedores. Afinal, a CNBB continua sendo referência para grande parte da sociedade brasileira que luta por um Brasil mais justo e equânime.
"Menino, você entende a linguagem diplomática da Igreja". Pelo menos essa agora da CNBB a gente entende, afinal, a misericórdia é a linguagem do próprio Deus.
Autor: Roberto Malvezzi, Gogó
Agente Pastoral da Comissão Pastoral da Terra
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