15 de junho de 2009

Vítimas de abuso em escolas católicas protestam na Irlanda

Sobreviventes de estupros e rituais de espancamento em escolas católicas marcharam silenciosamente nesta quarta-feira até o Parlamento irlandês, carregando sapatos de crianças e vestidos com fitas brancas simbolizando a juventude perdida.

A revelação de surras, trabalho escravo e estupros no agora extinto sistema irlandês de escolas industriais e de reforma envergonham o povo do país, particularmente os mais velhos, que não confrontaram o que um relatório no mês passado chamou de abuso endêmico.

"Era como se você estivesse dentro de uma prisão e, quando você sai, você não fala sobre isso", afirmou Marina Permaul, 66, que foi criada com "estilo militar" por freiras no condado de Galway, no oeste do país.

"Você não fala sobre isso nem com as suas crianças", disse Permaul, que chegou de Londres para participar da marcha. "Você fica muito envergonhada com isso tudo e, de qualquer forma, eles vão acreditar em você? Você não ousa manifestar-se livremente contra uma ordem religiosa."

Notícias locais informaram que cerca de 7.000 pessoas participaram da marcha, incluindo centenas de vítimas de abuso.

Os organizadores do protesto, organizado para coincidir com um debate parlamentar sobre o relatório, expressaram raiva quanto ao fato de que as conversas foram adiadas para permitir que o Parlamento avalie uma proposta de não confidência no governo.

"Isso realmente enfatiza novamente que o Estado não entendeu de fato uma iota do que isso significou para 165.000 crianças que estiveram em 216 instituições", afirmou a sobrevivente Christine Buckley.

"Estou muito desapontada", disse Buckley, que criou o Aislinn Centre, que dá apoio aos sobreviventes.

O inquérito, presidido pelo juiz da Corte Suprema Sean Ryan, criticou autoridades religiosas por cobrir os crimes e o Departamento de Educação por ser complacente com o silêncio. A investigação também registrou que as crianças também eram alvos de pais adotivos, voluntários e funcionários.

O relatório não identificou os agressores após uma bem-sucedida ação legal pelos Christian Brothers, que era o maior provedor de assistência residencial para garotos na Irlanda.

Uma série de escândalos envolvendo padres tiraram a Igreja Católica Romana de sua posição de primazia na sociedade irlandesa.

Ordens religiosas identificadas no relatório enfrentaram pressão para pagar indenização às vítimas. Um acordo de 2002 estabeleceu a contribuição em um fundo de retificação de 127 milhões de euros (177 milhões de dólares), mas o valor total deve ultrapassar 1 bilhão de euros.

Buckley disse que o fundo de retificação era uma falha e pediu que sua indenização seja revista e um outro fundo, estabelecido.

Nos Estados Unidos, a arquidiocese de Los Angeles acertou o pagamento de 660 milhões de dólares a 500 vítimas, na maior indenização desse tipo.

(Reportagem adicional de Carmel Crimmins)


Colaborador: Rodney Eloy

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