24 de agosto de 2009

As bases da Teologia da Prosperidade - Uma deturpação do Evangelho

Esta forma deturpada de visão bíblica tem como pilares três pontos muito controversos, segundo acreditam os especialistas em hermenêutica bíblica: a autoridade espiritual, a saúde e a prosperidade, a confissão positiva.
Hagin crê que Deus dá autoridade a profetas modernos, seus porta-vozes. Os demais evangélicos (os não pentecostais) dizem que os profetas cessaram nos tempos de João (Mt 11.13) e que o dom da profecia não é sinal de autoridade profética.
Também contestam o valor das experiências pessoais dos pastores e “profetas” como figura de “autoridade” na pregação.Curiosamente, um ensinamento de fundo gnóstico e muito citado pelos adeptos do movimento conhecido como “Nova Era” aparece nos escritos de Hagin e Copeland:“Você é tanto uma encarnação de Deus quanto Jesus Cristo o foi (…). [Hagin, Word od Faith] Eis quem somos: somos Cristo! [Hagin, Zoe: A própria vida de Deus] Você não tem um deus dentro de você. Você é um Deus. [Kenneth Copeland, The force of love]”Ainda que os gnósticos cressem nisso, hoje a idéia é usada de modo deturpado e com vistas à manipulação da mente alheia.
Os adeptos da Teologia da Prosperidade acreditam não só que o cristão tem direito à saúde e às riquezas, como doença e pobreza são sinais inequívocos de falta de fé. Esquecem dos cristãos martirizados e pobres dos primeiros tempos. Seriam eles derrotados?Para tais fanáticos, se o cristão não tem vida plena, sem doenças, se não vive até 70 ou 80 anos sem dor, miséria ou dificuldades, é porque não tem fé suficiente. Esquecem que Paulo apóstolo viveu doente, que Timóteo teve uma doença crônica (1 Timóteo 5.23) e que muitos cristãos importantes eram miseráveis.A Bíblia não incentiva a riqueza nem a proíbe. Mas os adeptos da Teologia da Prosperidade dizem que o crente, para ser bem sucedido perante os homens e perante Deus, deve ter do bom e do melhor (carro novo, mansão, roupas caras, luxo puro), coisa que Jesus nunca possuiu. E Paulo apóstolo diz que aprendeu a se contentar com o que tinha!Mas o maior descalabro é a “Confissão Positiva”, misto de “poder da mente”, “neurolingüística”, fé distorcida, falta de humildade perante Deus, manipulação mental-emocional e oportunismo. Suas “fórmula” básica é:Dizer a coisa (positiva ou negativamente, conforme a pessoa); fazer a coisa (conforme a ação, a pessoa recebe ou é impedida); receber a coisa (a fé é o pilar, a conexão com a graça); contar a coisa, para que outros creiam (o testemunho - aí entra a manipulação, como se pode observar nos cultos transmitidos pela televisão).Para fazer a “confissão positiva” não se usa palavras como “peço”, “rogo”, “suplico”, mas outras como “exijo”, “decreto”, “determino”. Para Benny Hinn, dizer “se for da tua vontade” destrói a fé! Mas não foi o que Cristo disse na cruz (Mateus 26.39,42)?A prosperidade espiritual deveria vir em primeiro lugar, mas o que a Teologia da Prosperidade prega é a riqueza material em detrimento da espiritual. Isso fica evidente nos testemunhos televisionados, nos “congressos para empresários”, nas vigílias de prosperidade e coisas do gênero. O “negócio” de Deus gera cada vez mais fundos terrenos! Ser pobre não é um pecado, mas resultado da injustiça social do mundo. Por outro lado, ser rico não é sinal de pureza ou santidade.Considerar o pobre um “maldito” como fazem os adeptos desta deturpação teológica, e o rico como “abençoado”, pode levar a discrepâncias terríveis. Pode levar a depressão e suicídio pessoas fracas demais para suportar a alcunha de “amaldiçoados” ou “derrotados”.Isso não se encaixa mais no direito constitucional de livre prática religiosa, mas deveria ser tratado, em muitas situações, como caso de polícia. E é o que tem acontecido algumas vezes, como tem noticiado a mídia.Não disse Jesus que é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico (seja pastor ou não!) entrar no reino dos céus?A teologia da prosperidade prega uma forma de avareza, e a avareza é considerada idolatria (Cl 3.15), uma adoração que torna a pessoa escrava do dinheiro e do status que ele representa. E como fica o status perante Deus? O Novo Testamento diz que o amor ao dinheiro é a raiz de todo o mal (1 Timóteo 6.10).Os teólogos evangélicos anti-teologia da prosperidade dizem que os adeptos da mesma usam trechos isolados da Bíblia para justificar suas heresias, assassinando a hermenêutica (interpretação) dos textos sagrados.As deturpações incluem afirmar que Jesus era muito rico, quando a Bíblia diz que se fez pobre; que o crente deve ter muito dinheiro, quando a Bíblia diz que ele é a raiz do mal; que as dificuldades são sinais de falta de fé, quando a Bíblia diz que nas lutas é que a fé é testada; que se deve desejar as mesmas coisas caras e luxuosas dos outros, quando a Bíblia chama isso de cobiça; que, sendo “filhos do Rei”, devemos ter do bom e do melhor, quando o próprio “Rei” se fez servo para dar uma prova de humildade e do que realmente importa para Deus; que os pastores devem prosperar financeiramente, quando a Bíblia condena o enriquecimento em nome de Deus.E o descalabro não pára por aí. Vai a níveis inimagináveis de manipulação. Se chega ao ponto de vender “óleos abençoados” que podem fazer de tudo: desde eliminar doenças sem cura até fazer com que o botijão de gás de uma família pobre dure mais tempo (o relato é verídico e nos foi passado por um fiel de uma igreja neopentecostal)!Há 20 anos atrás, a pregação pentecostal era de humildade e desapego das riquezas. Agora, os neopentecostais transformaram suas igrejas em empresas bem sucedidas, onde encontrar Cristo é como ganhar na loteria. Para eles, Cristo pregou aos pobres para que eles deixassem de ser pobres materialmente, embora não haja um só versículo bíblico que embase essa idéia.
Fonte: Revista Horizonte - publicado em 09/04/2008

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