11 de agosto de 2009

Francis Bacon, precursor da ciência moderna

Na sua obra mais famosa, Novum Organum, o filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) pretende dar instruções verdadeiras para interpretar a natureza. Foi político de destaque, e, ao ser destituído de seus postos, dedica-se exclusivamente ao trabalho intelectual. Nessa época, a Inglaterra começa a se transformar em potência política e econômica; Bacon compreendeu tais mudanças e propõe diretivas para realizá-las na prática com um novo método, revolucionário. É preciso ser escravo e intérprete da natureza, quer dizer, a natureza nos ensina tudo o que há para ser aprendido de fato e pelo pensamento. Essa submissão aos fatos não se dá pela pura atividade intelectual, mas pelo trabalho prático. Conhecimento é poder: chegar às causas dos acontecimentos pelos efeitos produzidos significa obedecer às leis da natureza para obter resultados.

Bacon foi o fundador do empirismo. A realidade empírica, isto é, a realidade dos fatos é a única que pode ser apreendida. O conhecimento não se dá pela dedução, pois ir do geral ao particular tal como na lógica aristotélica – afirmar, por exemplo, que todo homem é mortal, que Sócrates é homem e, portanto, mortal – nada acrescenta quanto aos fatos, à realidade prática. Assim, o método para Bacon é o da indução: a construção da ciência se faz pela experiência com fatos reais e particulares, e estes levam a generalizações. É preciso evitar noções aceitas sem exame prévio, e todo tipo de preconceitos. A ciência é processo metódico em que as conclusões da razão humana são aplicadas à natureza para permitir previsões úteis à ação.

Bacon indica os quatro preconceitos, ou ídolos: a) os ídolos da tribo, quer dizer, os da espécie humana. Os sentidos humanos não são a medida das coisas, pois tanto eles como as percepções e também a mente pertencem ao indivíduo e não à espécie; o entendimento humano é como um espelho falso que distorce a natureza, misturando seus próprios preconceitos às coisas; b) os ídolos da caverna dizem respeito a cada homem: a mente é como uma caverna habitada pelo modo como o indivíduo foi educado, suas leituras, as influências, as impressões que perturbam o conhecimento e impedem que ele saia desse mundo fechado e vá buscá-lo no mundo comum a todos; c) ídolos do mercado se formam pelo contato social, palavras e conceitos do vulgo obstruem o conhecimento, produzem fantasias vãs e discussões vazias; d) ídolos do teatro resultam da má influência dos dogmas filosóficos e de falsas demonstrações; os sistemas filosóficos, montados como num cenário, representam sistemas de pensamento equivocados, perpetuados pela tradição, credulidade e negligência.

A investigação deve seguir regras ou tabelas que possibilitam descobertas, a mente se abre para analisar a natureza pelo método de rejeições e exclusões, e após um número significativo de testes, chega-se a conclusões não só para elaborar princípios, mas também novas noções que produzem resultados benéficos. Buscar as causas dos fenômenos (leveza, rotação, resistência, semelhança, organização etc.) pelo método rigoroso da indução fornece regras à atividade humana e assegura o progresso. Esse novo tipo de sábio é modesto, visa transformar o mundo por meio de um trabalho cooperativo, com uso consciente do saber. Bacon não foi apenas precursor do empirismo; ele construiu a imagem moderna da ciência.


Inês Lacerda Araújo é doutora em Estudos Lingüísticos, foi professora no Departamento de Filosofia da UFPR e atualmente é professora e pesquisadora no Programa de Mestrado de Filosofia da PUCPR. É autora das seguintes obras: “Introdução à Filosofia da Ciência” (Editora UFPR), “Foucault e a Crítica do Sujeito” (Editora UFPR) e “Do Signo ao Discurso: Introdução à Filosofia da Linguagem” (editora Parábola).

Fonte:Gazeta do Povo

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