9 de novembro de 2009

Padre bom é padre morto

No dia 8 de outubro, dei-me ao luxo de ler algumas apreciações relacionadas com uma notícia difundida pelo provedor "Terra", sob o título: «Ex-padre é condenado a 10 anos por pedofilia em Minas Gerais». O artigo era acompanhado por uma centena de comentários. Comecei a ler alguns deles. Precisei parar logo, tamanha era a repulsão que demonstravam pela Igreja Católica. Cito apenas os primeiros: «Padre bom é padre morto!». «O lugar desses padres pedófilos é no inferno!». «Infelizmente, a Igreja Católica tem sido leniente ao tratar do problema da pedofilia. Não trata, esconde. Não adianta esperar que a solução venha do Vaticano».

Houve também quem julgou descobrir a solução do problema: «É por isso que os padres precisam casar. Todos têm carne fraca para o pecado. Não é porque é padre que pode achar que não peca. E, quando peca, faz essas coisas horríveis». Nem faltou o recado do filósofo ateu: «Toda experiência religiosa é prejudicial ao ser humano».

Além de trazer nome e sobrenome do sacerdote mineiro, a notícia descia a pormenores capazes de levar leitores menos avisados a pensar que o único lugar adequado para os padres e a Igreja Católica seria um presídio de segurança máxima...

Uma semana após, no dia 14, um site de Campo Grande trazia uma notícia bastante semelhante. Contudo, a apresentação do fato feita pelo jornalista era muito diferente: «Um pastor evangélico de 47 anos, que está sendo acusado de pedofilia, se afastou da função ontem à noite. A denominação religiosa não está sendo divulgada, para não denegrir a imagem da instituição. O nome do pastor, acusado de pedofilia, não foi divulgado porque as investigações ainda estão em curso».

A dúvida de quem toma conhecimento da forma como foram tornados públicos os fatos de Belo Horizonte e de Campo Grande é sobre a imparcialidade de certos órgãos de comunicação. A impressão que se tem é de dois pesos e duas medidas: para os padres, insultos e condenação; para os pastores, respeito e consideração. Mas, o acontecido se presta também para outra leitura: um jornalismo sadio e independente não faz acusações sem ter provas precisas e concretas. Não são as poucas as pessoas que foram condenadas pela imprensa e absolvidas pela justiça!

Penso de não me colocar acima do comum dos mortais ao afirmar que conheço bastante as limitações e fraquezas que envolvem a vida dos presbíteros, pois sou um deles há mais de 40 anos. Elas me fazem lembrar o comentário feito pelo autor da Carta aos Hebreus, ainda nos primeiros anos de existência da Igreja: «Escolhido entre os homens, o sacerdote é constituído para o bem dos homens nas coisas que se referem a Deus. Sua função é oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Desse modo, ele é capaz de ter compaixão por aqueles que ignoram e erram, porque também ele está cercado de fraqueza. Por causa disso, precisa oferecer sacrifícios, tanto pelos próprios pecados, como pelos pecados do povo» (Hb 5,1-3).

Apesar das quedas de alguns sacerdotes – quedas que são logo difundidas aos quatro cantos do mundo – , posso garantir que a quase totalidade dos padres que conheci em minha vida – que não é tão curta – luta para manter viva sua fidelidade à vocação. Como São Paulo, eles também, não poucas vezes, são pungidos por "um espinho na carne" (2Cor 12,7). Apesar disso, pela missão que assumiram, precisam consolar, mesmo quando passam pela desolação; prestar socorro, mesmo quando sentem falta de uma mão amiga; orientar, mesmo quando se sentem inseguros; amar, mesmo quando não são amados...

O que acontece é que o padre é um homem público, alguém em quem o povo cristão quer confiar e se espelhar. Mas, não sendo um extraterrestre ou um ser assexuado, está inclinado ao pecado como qualquer outra pessoa. Há padres pedófilos, assim como há também médicos, fazendeiros, juízes, militares, professores e até "honrados" pais de família, como provam os inúmeros processos em andamento no Pará. Mas será preciso ir até lá? Uma coisa é certa: o mesmo Jesus que disse: «É inevitável que aconteçam escândalos, mas ai de quem os provoca! Seria melhor que lhe encaixassem no pescoço uma pedra de moinho e o atirassem ao mar, antes de escandalizar a um pequeno!» (Lc 17,1-2), também acrescentou: «Por que reparas no cisco do olho do teu irmão, e não reparas na trave que tens no teu? Hipócrita: tira, primeiro, a trave do teu olho e, depois, poderás tirar o cisco do olho de teu irmão!» (Lc 6,41-42).

*Bispo de Dourados
domredovino@terra.com.br

Colaborador:Rodney Eloy

Fonte:JornaloProgresso

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