4 de novembro de 2009

Para dificultar vestibular de Direito, FGV utilizou trechos da Filosofia de Michel Foucault

Ana Okada
Em São Paulo


A redação do primeiro dia do vestibular 2010 de direito da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas de São Paulo) dividiu as opiniões dos professores consultados pelo UOL Vestibular entre "difícil" e "pretensiosa". A proposta pedia que o candidato escrevesse sobre diversas visões do conceito de "verdade", apresentadas em uma reprodução de um quadro de Salvador Dalí, em um poema de Álvaro de Campos (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) e em um trecho de texto do filósofo Michel Foucault.


Segundo Célia Passoni, do curso Etapa, a dificuldade do tema estava em fazer relações entre assuntos ligados à filosofia, tais como "verdade", "linguagem" e "poder". "Para relacionar os textos, o aluno tinha que ter leituras e ter reflexão sobre temas mais abstratos, filosóficos; era preciso ter havido um manejo prévio com esse tipo de raciocínio."

Já o professor Francisco Achcar, do curso e colégio Objetivo, critica a escolha do tema das "noções de verdade": "colocar uma questão dessa amplitude numa prova de vestibular, mesmo que fosse para um curso de filosofia, já seria descabido". Para ele, a questão está muito além do estudante do ensino médio e o tema foi "pretensioso".

Os docentes também divergiram sobre a prova de português: enquanto a professora Célia classificou o exame como "interessante", porque abordou aspectos gramaticais e textuais, o professor Francisco achou que as questões variaram entre "superficiais ou irrespondíveis".

Célia elogiou o fato de o exame da FGV ter valorizado a gramática. Ao abordar ligações gramaticais e as relações que elas tecem no texto, o exame mostrou que o assunto, que já não é tão abordado diretamente nos vestibulares mais atuais, ainda é relevante. "Muitos alunos hoje não sabem para que estudam gramática, a prova mostrou que ela é importante também."

Para Achcar, a prova de português apresentou problemas na formulação das perguntas, que se alternaram entre "superficiais ou irrespondíveis". Como exemplo, ele cita a questão C, que utiliza o termo "desconstrução". Achcar explica que a palavra é um neologismo que é termo técnico da filosofia, e que é utilizado arbitrariamente como palavra chave da questão, tornando-a sem sentido.

Fonte:Uol

Nenhum comentário: