24 de julho de 2010

Filosofar é preciso!

Régis de Morais nasceu em Passa Quatro, MG, em 1940. Já há muitos anos reside em Campinas. É licenciado em Filosofia e Ciências Sociais, tem mestrado em Filosofia Social e doutorado em Educação. Já foi professor na PUCC e UNICAMP. Atualmente, leciona na UNISAL de Americana. Foi professor convidado da PUC do Chile em três ocasiões, tendo também prestado serviços à Universidade Técnica de Lisboa, Portugal. Régis tem 46 livros publicados nas áreas de Filosofia, Sociologia e Literatura. É também orador e escritor espírita. Eis os títulos de algumas obras suas : “Espiritualidade e Educação”, “Palavras Despedaçadas por Um Mundo Insano”, “Um Caso de Amor Com a Vida”, “Corações em Luz”, “Sobre o Equilíbrio Religioso – Fé e Comunidade” (seu livro mais recente) e “Ciência e Tecnologia”.

Régis, qual o campo de trabalho do filósofo e do cientista social?

Principalmente, esse campo de trabalho está no âmbito docente (ensinos de 2º e 3º graus).

Fala-se muito nos filósofos, os clássicos, aqueles tradicionais são sempre citados. Mas, há filósofos atuais, com novas ideias?

Há filósofos atuais com ideias novas e muito relevantes, como André Comte-Sponville, Emmanuel Lévinas, Marcel Conche, Rubem Alves, Merleau-Ponty e outros.

Em que país aparecem mais publicações filosóficas? Em que país a filosofia é mais respeitada? O filósofo brasileiro escreve bastante?

Em especial na França e na Bélgica. Há boa publicação de brasileiros, mas numericamente bem menor.

Por que é importante se estudar ciências sociais e também filosofia?

Como filosofia é obra humana e sociocultural contextualizada, sempre há conveniente convergência entre se estudar ambos: a filosofia e o grupo das ciências sociais.

Régis, certa vez você falou para nós, seus alunos (isto em 1979), que o prazer do filósofo está em pesquisar, buscar as respostas, não tanto em encontrá-las. Parece que quando as encontra isto não o satisfaz. Você ainda pensa assim?

Como disse W. Bion: “A resposta é a desgraça da pergunta”. Encontrar respostas é muito bom, mas a curiosidade de questionar é ainda melhor, pois promove a dialogia.

A pessoa que se forma em Ciências Sociais, por exemplo, pode lecionar que matérias? O aluno sai do curso sociólogo e antropólogo?

O aluno sai do curso sociólogo e antropólogo, mas pode lecionar as disciplinas todas que abordam questões socioculturais.

O que você acha dessas palavras do filósofo Luc Ferry, que foram publicadas algum tempo atrás nas páginas amarelas da “Veja”: “As principais correntes filosóficas são, na verdade, grandes doutrinas de salvação, assim como as religiões. A diferença entre religião e filosofia é que a primeira tenta encontrar a paz interior e a felicidade através da fé, enquanto a outra busca o mesmo pela razão, sem a intervenção de um deus”?

As palavras de Luc Ferry simplificam demais. Penso que as religiões buscam salvação e as filosofias bem menos: apenas explicações aceitáveis para a problemática humana.

Régis, você acha que livros como “Quando Nietzsche Chorou”, “A Cura de Schopenhauer”, de autoria de Irvin Yalom, e “O Mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder, por exemplo, despertam um interesse nas pessoas em conhecer os grandes filósofos, em se aprofundar no estudo da Filosofia?

Penso que sim, de vez que são livros instigantes e inspiradores.

Com qual filósofo você se identifica mais?

Com o austríaco-judeu Martin Buber, por ter passado sua longa vida refletindo sobre a importância do autêntico diálogo humano.

Muitos filósofos eram materialistas, como é o caso de Nietzsche e Schopenhauer. Isto acontece com todos ou existem muitos que são espiritualistas?

Continua havendo materialistas e espiritualistas na filosofia. Apenas que os materialistas atuais ignoram teimosamente fantásticos avanços da Nova Física e da Nova Astrofísica.

Podemos dizer que a filosofia é a base da ciência?

No princípio era a Mitologia. Depois toda a cultura fez-se filosófica. As ciências desenvolveram-se depois. Porque qualquer ciência que não discute seus pressupostos cria uma legião de fanáticos.

Atualmente, tem-se falado muito em Orientação Filosófica, uma espécie de filosofia clínica, que seria uma filosofia mais prática. O que você sabe a respeito?

Entendo que a “filosofia clínica” teve seu início (não com esse nome) com Santo Agostinho, em Hipona (África, séculos IV e V da nossa era). Admiro a clínica filosófica, que na França foi retomada por Marc Sautet. Mas considero um tanto problemática essa atividade como é proposta no Brasil.

Régis, por que os filósofos escrevem tão difícil? Não há interesse em se expressar de modo mais simples para atingir o grande público? É como se escrevessem para serem lidos, entendidos somente entre eles mesmos. O que você pensa a respeito?

Como comenta Dalmo Dallari: “Há autores que escrevem para mostrar o seu pensamento, e há os que escrevem para escondê-lo”. Isto em qualquer área. Sou autor de textos filosóficos e nunca tive essa queixa acerca dos meus livros.

Todas as ideias que os filósofos colocam no papel, você acha que estão relacionadas a sua história pessoal, são eles influenciados pela sua própria experiência de vida ou conseguem se isentar, se abstrair ?

As reflexões dos filósofos se ligam ao seu tempo, à história humana, à história de suas experiências pessoais. Constituem um tecido (texto) de muitos fios, quase nunca abstratos, em sentido rigoroso.

Qual seria o perfil psicológico de um filósofo e de um cientista social?

Talvez um psicólogo responda melhor isso. Penso que ambos, o filósofo e o cientista social, devem ter constantes “admiração e perplexidade ante o mundo”.

Régis, que conselhos você daria para quem desejar fazer os dois cursos?

Que os faça por profundo interesse humano, desejo de autocrescimento e ideal de iluminar outras consciências.

É verdade o que dizem por aí – que só se pode filosofar em alemão? Por que dizem isso?

A história mostra que se filosofa muito bem em alemão. Mas melhor ainda em francês, espanhol e outras línguas latinas. Anedotas existem; mas sempre confirmadas pela realidade.

Colaborador:Rodney Eloy

Fonte:
Jornaldemocrata

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