19 de outubro de 2010

"A CNBB está vivendo um momento difícil”, diz Dom Demétrio


Bispo de Jales (SP) critica o que chama de manipulação feita por alguns bispos
“Não foi, oficialmente, a CNBB que explorou eleitoralmente a questão do aborto”. É o que esclarece Dom Demétrio Valentini, numa breve entrevista por correio eletrônico ao Brasil de Fato.

Segundo ele, certos episódios, como a distribuição de panfletos como o texto intitulado “Apelo aos fiéis”, distribuídos em algumas igrejas católicas paulistas, em plena campanha eleitoral, ameaçam seriamente a instituição. Abaixo a entrevista.


Brasil de Fato - Dom Demétrio, você achou legítima e democrática a distribuição de panfletos contra a candidatura de Dilma Roussef (PT) pela Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)? Por quê?


Dom Demétrio Valentini - Já temos agora a declaração oficial da Presidência da CNBB, emitida no dia 08 de outubro, denunciando a manipulação feita, envolvendo indevidamente o nome da CNBB. Diz textualmente a Nota da Presidência da CNBB: "Lamentamos profundamente que o nome da CNBB - e da própria Igreja Católica, tenha sido usado indevidamente ao longo da campanha, sendo objeto de manipulação". A Nota da Presidência da CNBB se refere, evidentemente, à farta distribuição de folhetos, que usavam a "recomendação" feita pelo Sul 1, apresentando-a como se fosse uma recomendação oficial da própria CNBB.

É o caso típico de manipulação, com a clara intenção de enganar o eleitor. Infelizmente, foi o que a "recomendação" do Sul 1 proporcionou.


Essas eleições têm causado desconforto entre os bispos da CNBB?

A CNBB está vivendo um momento difícil, que certamente demandará uma profunda avaliação, passadas as eleições, para analisar com serenidade de espírito os episódios que estão ocorrendo nesta campanha eleitoral e que ameaçam seriamente a credibilidade desta instituição, que já deu no passado importante contribuição para a sociedade brasileira.



O senhor acredita que a questão do aborto, por exemplo, tem sido explorada de uma forma extremamente eleitoral por parte da CNBB e que, desse modo, alimenta enormemente os votos nos tucanos?

De novo é preciso reafirmar com clareza: não foi, oficialmente, a CNBB que explorou eleitoralmente a questão do aborto. É evidente que está havendo uma exploração eleitoral do questão do aborto. E para isto estão utilizando posicionamentos pessoais de alguns bispos e padres, para apresentar estes posicionamentos com se fossem da CNBB. Esta é a instrumentalização que está sendo feita. E os bispos e padres que usam a religião para manifestar publicamente sua opção partidária, deveriam se dar conta de quanto estão sendo explorados pelos partidários de uma determinada candidatura.



Alguns sociólogos afirmaram que o voto em Marina foi, sobretudo, uma resposta ao caráter antirreligioso da candidatura de Dilma Roussef, e denominaram isso como uma demonstração de uma face fascista do Brasil. Como o senhor analisa isso?

Pode ser que isto ajude a entender o resultado do primeiro turno. O fato evidente é que esta campanha está mostrando problemas muito sérios, existentes em nossa sociedade brasileira. Existem os saudosistas da ditadura militar, há ódios e rancores represados que começam perigosamente a se manifestar, há posturas religiosas fundamentalistas, que se aproximam perigosamente do fanatismo. Tudo isto nos desafia a todos e nos convoca para o bom senso e para a responsabilidade.
Fonte: Brasil de fato

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