26 de novembro de 2010

"Brasil corre risco de retrocesso", diz filósofo francês

Um dos mais respeitados intelectuais franceses, o sociólogo Alain Touraine, de 85 anos, diretor da École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris que apresenta hoje, em São Paulo, o seminário “Queda e renascimento das sociedades ocidentais”, declarou, em entrevista ao jornal O Globo, temer retrocesso político no Brasil após a eleição de Dilma Rousseff (PT).

Segundo ele, esse temor se deve ao passado populista do País e ao “autoritarismo de segmentos do PT”. “Uma coisa é clara. O Brasil tem um sistema político horrível, corrupto”, disse o sociólogo, que atribui a Fernando Henrique Cardoso e a Lula, “em igual importância”, as transformações sociais e econômicas alcançadas pelo Brasil que, segundo ele, tem os elementos básicos para desenvolver um novo tipo de sociedade.
“Mas não sou necessariamente otimista. Não sabemos o que acontecerá daqui para a frente. A nova presidente (Dilma) foi inventada por Lula”, disse. Touraine disse que a falta de conhecimento sobre Dilma pode representar um risco para a imagem do Brasil no exterior assim como a falta de informações sobre a política econômica que Lula adotaria foi na virada de 2002 para 2003. “Neste momento, ninguém sabe nada sobre ela. Ela pode ter tendências populistas ou fazer um fantástico governo, não sabemos. Lula não foi autoritário, mais muita gente no PT é”, comentou.

O sociólogo francês também criticou a ideia de que Dilma poderia ficar no cargo por quatro anos e entregá-lo novamente a Lula em 2014, por conta da legislação eleitoral brasileira.
“A ideia de Dilma esquentar a cadeira por quatro anos para Lula também me desagrada. Em uma democracia, não pode haver presidente interino”. Para Touraine, a oposição terá papel fundamental no governo Dilma e, apesar de inferior numericamente no Congresso Nacional, terá de ser mais ativa do que foi durante os oito anos de governo Lula.
Ele aponta que, mesmo sem mandato, José Serra (candidato a presidente pelo PSDB derrotado por Dilma) será peça chave na construção dessa oposição. “O fato é que, depois de Lula, era impossível para José Serra vencer. Ele é extremamente competente, honesto e sério. Na oposição, é um ativo valioso para o Brasil frente aos riscos de irresponsabilidade e populismo”, disse.

Apesar do alerta, Touraine disse ver o Brasil em um ótimo momento e que se a presidente Dilma o surpreender, o País, com suas características, pode se consolidar como uma das grandes forças mundiais.
“A verdade é que não sabemos o que será o governo da nova presidente, porque ela não tem experiência política. Mas eu acredito que o Brasil tem tudo para ser o lugar em que uma nova sociedade surgirá. Não vejo muitos outros países no mundo que tenham chances tão boas quanto o Brasil”, disse.

Sobre os movimentos políticos internacionais, Touraine disse que o único movimento político realmente forte hoje é a ecologia. “Pela primeira vez na História abandonamos a velha filosofia de Descartes ou Bacon de que a cultura domina a natureza. Pela primeira vez estamos preocupados em salvar a natureza sem destruir a civilização e vice-versa”, disse ele.

“Outra força antropológica pela qual tenho grande interesse é o movimento feminista. Mulheres em geral têm uma visão de sociedade que é o contrário do modelo masculino de tensão extrema, polarização. Mulheres buscam a conciliação em vez da oposição”, afirmou, para observar que “no entanto, o feminismo ainda não existe como força política”.
Colaborador: Rodney Eloy

Um comentário:

Marcão disse...

Assim como não podemos respeitar todos os velhos, até porque os cretinos também envelhecem...a mesma máxima serve para este filósofo.....filósofo não é sinal de sabedoria, aja vista a história da filosofia. Além do mais, vamos pedir para ele falar do país dele que vive momentos terríveis tanto econômicos como sociais. Xô filosopata!!!!