31 de maio de 2008

Como ler um texto

Como ler um texto
Os alunos de cursos superiores algumas vezes se aborrecem com cursos que pretendem “ensinar a ler” textos filosóficos. Para alguns alunos isto muitas vezes soa quase como um desaforo. Afinal, como alguém poderia ter ingressado num curso superior se já não soubesse ler, e bem?! Como poderia ter sequer passado num exame vestibular? Na verdade, o estudante que se inicia na leitura de textos conceitualmente complexos deve antes de tudo compreender que o estudo de filosofia exige um método. De alguma forma, este método já se constitui numa introdução à própria filosofia e pressupõe uma concepção filosófica da própria filosofia.
O que se procura mostrar é como as exigências de rigor e cuidado na leitura decorrem da própria organização conceitual dos próprios textos filosóficos. Neste sentido, ela não tem um valor filosófico em si mesmo, mas antes como uma técnica exigida pelo próprio pensamento filosófico.
É importante deixar claro desde logo que não existe um método canônico e uniforme para a leitura de textos filosóficos. Em outras palavras, inexiste um modelo rígido de passos a serem seguidos dogmaticamente pelo estudante. Ou seja, não há um manual seguro para aquisição das técnicas de leitura. O texto que se segue não tem senão a ambição de dar algumas dicas para o aluno que se inicia no campo da filosofia e nas vicissitudes da leitura de textos conceitualmente complexos.
Os textos filosóficos, e de maneira muito particular os textos clássicos, constituem-se numa das principais vias de acesso à filosofia. Neste sentido, estudar filosofia (como o primeiro passo para filosofar) significa colocar-se em presença de uma filosofia anterior. Para tanto, freqüentar os textos, analisar, compreender, comentar, explicar constituem-se no seu meio de apreensão básica trivial, muito embora o filosofar não se esgote nesta tarefa. Através da leitura de textos filosóficos, podemos exercitar a atividade de reconstruir os sistemas de idéias, compreender as exigências de suas “dificuldades”, freqüentemente apagadas dos textos de resumo didáticos.
Vale lembrar que, apesar de imaginarmos que somos leitores competentes de textos, recentes estudos têm demonstrado que, na verdade, o aluno brasileiro que acaba de completar o ensino médio, mesmo aquele saído das melhores escolas, ainda padece de graves deficiências no domínio de habilidades de leitura de textos conceitualmente complexos.
Para iniciar-se na leitura de textos é importante saber que não há apenas uma forma de leitura. Há diversas maneiras pelas quais um texto pode e deve ser abordado. É importante lembrar que a leitura rigorosa constitui-se numa técnica que apenas se domina através da prática. Assim como a teoria do andar de bicicleta é algo que tem um alcance prático limitado, podendo apenas orientar e auxiliar aquele que se inicia no aprendizado nesta técnica, as observações a seguir devem ser vistas como guias para a mais fácil aquisição de um domínio técnico, que somente se fará através da prática. Só se aprende a andar de bicicleta praticando e somente se aprende a ler e analisar um texto exercitando a leitura.
A leitura filosófica é por vezes desesperadoramente lenta e demorada. Reside aí um dos motivos pelos quais muitas vezes os alunos oriundos do ensino médio, empenhados num esforço concentrado orientado para o vestibular, não encontrem neste tipo de leitura um ritmo compatível a suas inquietações de produtividade. Afinal, acabam de sair de um processo competitivo de vestibular, o momento no qual se procura absorver a maior quantidade possível de informação no menor tempo possível.
Alguns tipos de textos, contudo, recomendam e demandam leituras em ritmos distintos, por vezes mais lentos. Mesmo para este tipo de leitura, do qual falaremos a seguir, uma primeira leitura, mais rápida, pode ser muito útil. Através dela se poderá ter uma visão de conjunto do texto a ser estudado, sondando-o, para posteriormente realizar, a partir da visão do todo, a busca das partes e seu encadeamento. Alguns autores denominam esta de leitura averiguativa. Isto porque não se trata de uma leitura absolutamente elementar, mas antes de garimpagem das idéias e da estrutura de um texto. Por outro lado, muitas vezes é importante vencer certa angústia e pressão psicológica que uma leitura mais lenta e cuidadosa pode causar nos leitores menos experientes.

1 - Leitura rápida
A leitura filosófica é por vezes desesperadoramente lenta e demorada. Reside aí um dos motivos pelos quais muitas vezes os alunos oriundos do ensino médio, empenhados num esforço concentrado orientado para o vestibular, não encontrem neste tipo de leitura um ritmo compatível a suas inquietações de produtividade. Afinal, acabam de sair de um processo competitivo de vestibular, o momento no qual se procura absorver a maior quantidade possível de informação no menor tempo possível.
Alguns tipos de textos, contudo, recomendam e demandam leituras em ritmos distintos, por vezes mais lentos. Mesmo para este tipo de leitura, do qual falaremos a seguir, uma primeira leitura, mais rápida, pode ser muito útil. Através dela se poderá ter uma visão de conjunto do texto a ser estudado, sondando-o, para posteriormente realizar, a partir da visão do todo, a busca das partes e seu encadeamento. Alguns autores denominam esta de leitura averiguativa. Isto porque não se trata de uma leitura absolutamente elementar, mas antes de garimpagem das idéias e da estrutura de um texto. Por outro lado, muitas vezes é importante vencer certa angústia e pressão psicológica que uma leitura mais lenta e cuidadosa pode causar nos leitores menos experientes.
É importante (mas muitas vezes quase inútil) insistir com o leitor ainda não treinado neste tipo de leitura que, após alguma prática, a velocidade na leitura tende a aumentar consideravelmente. Contudo, é difícil convencer o leitor iniciante, que tem diante de si a mesma angústia de quem recebe as promessas de um professor de língua estrangeira, logo nas primeiras aulas, de que um dia poderá falar com uma fluência que parecia inatingível no início de um curso.

2 - Leitura aprofundada
A leitura aprofundada é muitas vezes a única que realmente serve de meio para uma leitura filosófica de textos clássicos. Assim, a leitura rápida deverá ser vista como uma etapa para este tipo de leitura. Para tanto, prepare-se, pois ela é demandante. Não há como realizá-la sem uma boa dose de disciplina, esforço e perseverança. De certo modo, ela é comparável aos exercícios que um pianista tem de realizar antes para poder executar uma música com proficiência. O importante neste momento é aceitar (psicologicamente inclusive) que não é possível ultrapassar certa velocidade de leitura e compreensão sem certo treino. Portanto, tenha paciência e disciplina e você poderá colher os dividendos do esforço após algumas semanas.
Para este tipo de exercício, é necessário não ter pressa. Assim, o primeiro passo é começar o exercício com antecedência (caso ele seja exigência de um professor ou curso, comece a tarefa bem antes da véspera). Agora, você deve se fixar em cada passagem. Não se assuste se demorar meia hora para ler uma página ou dez minutos para concluir um parágrafo após varias releituras. Isto tudo é normal. Não deixe sua auto-estima se afetar negativamente em razão disto.




fonte: Caderno de Direito GV






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