PRAGMATISMO
O Pragmatismo é uma doutrina filosófica que consiste na justificação das idéias pelos seus efeitos. Voltaire era, antes de mais nada, pragmático, quando dizia “se Deus não existisse, seria necessário inventá-lo”, o que significa que Ele existe, pois sem Ele não haveria ordem alguma na humanidade. Dentro deste mesmo pensamento, George Palante apresentava Aristóteles como um pragmático: “Aristóteles invocava em favor do livre arbítrio um argumento pragmático. ‘Se o livre arbítrio não existisse, dizia ele, os homens não poderiam ser louvados ou censurados, o que não pode ser tolerado’. O que não pode ser tolerado! Exatamente a palavra de um pragmático. Aristóteles era antes de tudo, um pragmático, e da mesma forma, M. Brunetière, quando demonstrava a verdade do catolicismo pela sua eficácia social”. (Crônica de 16 de agosto de 1911, na revista Mercure de France).
O autor desta doutrina é o filósofo americano Charles S. Peirce. Seu primeiro artigo foi publicado na Revue Philosophique, em 1878, sob o título “A lógica da ciência, como tornar nossas idéias claras”. William James é um dos mais ilustres representantes desta doutrina. George Palante, no artigo já citado, sustenta que “em M. William James, o pragmatismo se torna suave, insinuante, manejável e servil, de acordo com o que se quer. Ele se dobra a todos os nossos impulsos, a todas as nossas necessidades as mais diversas e mesmo as mais contraditórias, e ele pretende contentar a todos, uns após outros, ou todos ao mesmo tempo”.
Reencontramos o pragmatismo puro nesta passagem do artigo de Peirce, publicado na Revue Philosophique:
“Toda a função do pensamento é de criar hábitos de ação e tudo que se prende ao pensamento sem concorrer para seu fim, é um acessório, mas, não faz parte dele. Se existe algum conjunto de sensações que não tem relação alguma com a maneira que agimos numa dada circunstância, como por exemplo, quando escutamos um trecho de uma música, não chamamos isto, absolutamente, de pensar.
Para desenvolver o sentido de um pensamento, basta simplesmente, determinar que hábitos ele produz, pois, o sentido de uma coisa consiste simplesmente nos hábitos que ela implica. O caráter de um hábito depende da maneira pela qual ele pode nos fazer agir, não só em tal circunstância provável, mas, em toda circunstância possível, por mais improvável que ela possa ser. Aquilo que é um hábito depende destes dois pontos: quando e como ele faz agir. Para o primeiro ponto: quando? Tudo que estimula a ação deriva de uma percepção; para o segundo ponto: como? O fim de toda a ação é de levar a um resultado sensível. Atingimos assim, o tangível e o pratico como base de toda diferença do pensar, por mais sutil que ele possa ser. Não há nuança, por mais fina que seja, que não possa produzir uma diferença na prática. ...Nossas ações têm, exclusivamente por objetivo, aquilo que afeta os sentidos; nosso hábito tem o mesmo caráter que nossas ações; nossa crença, (tem o mesmo caráter) que nosso hábito e nossa concepção, (tem o mesmo caráter) que nossa crença. ...É impossível que houvesse na nossa inteligência uma idéia que tivesse outro objetivo, que não fosse as concepções dos fatos sensíveis. A idéia de uma coisa qualquer é a idéia de seus efeitos sensíveis. Imaginar outras explicações é rebaixar-se tomando uma simples sensação que acompanha o pensamento, por uma parte do próprio pensamento. É absurdo dizer que o pensamento contém algum elemento que não tenha relação com sua única função.
Parece, então, que a regra para atingir o terceiro grau de clareza na compreensão, pode-se formular da seguinte maneira: considerar quais são os efeitos práticos que pensamos poder ser produzido pelo objeto de nossa concepção. A concepção de todos os efeitos é a concepção completa do objeto”.
Obra citada ao final: SOREL, G. De l’utilité du pragmatisme. Paris, Marcel Rivière, 1921.
Fonte: L`Encyclopédie De L`AGORA
(Tradução de Liliana Maria Trench Concilio)
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