S - Alguns teóricos sociais afirma que o individuo está desaparecendo no mundo globalizado, e que nós todos somos multidões anônimas hoje. O seu livro, no entanto a começar pelo título, "The New Individualism" O Novo individualismo, alega que o que está ocorrendo é algo diferente em termos de individuo. E então? Nós somos anônimos nas multidões ou somos novos indivíduos?
E- O debate que temos visto acerca da globalização a toma como uma imposição e vê a globalização como uma força que oprime os indivíduos, aniquilando a percepção de singularidade e criatividade e tudo o mais. Como você disse, há muitos manifestos sobre o fim do individuo. Charles Lemert e eu, em "The New Individualism", colocamos que isso é muito impreciso em termos de estudo da economia eletrônica global. O quadro é mais complexo e confuso. Portanto, nos interessamos em saber como, enquanto indivíduos no dia-a-dia, nós vivenciamos as forças da globalização. Nós criamos o termo "novo individualismo", que penso ser um símbolo da mania de reinvenção que está assolando as cidades caras e refinadas do Ocidente.
S- O conceito de individualismo que você citou não existiu sempre, é algo bastante novo. Como isso se desenvolveu?
E - No pensamento social e político, a noção de individualismo tem uma história especifica. Nós fizemos um mapeamento. Para falar de "novo individualismo", precisamos definir "antigo individualismo". Nós analisamos detalhadamente o livro de Tocqueville "A Democracia na América", um tratado clássico sobre formas tradicionais de individualismo. Há um contraste muito interessante. Quando Tocqueville veio aos EUA, ele, basicamente olhou à sua volta e viu uma sociedade de indivíduos emergentes que se relacionavam com as pessoas ao redor por meio da comunidade, do mercado e das forças políticas públicas. No entanto, os indivíduos podiam se recolher. Eles podiam se desligar da sociedade em volta, refletir e pensar em sua vida com o objetivo de voltar à sociedade e de contribuir com ela de modo mais rico. Hoje, nós vivemos em uma época diferente. Os indivíduos têm menos opções de se recolher. O individualismo está se tornando o ato de reinventar, transformar, reconfigurar e reesculpir a personalidade, fazendo isso em público. O importante é exibir, pôr tudo à mostra para as outras pessoas.
S - Você fez uma referência a Hebert Marcuse, o famoso filósofo marxista alemão. Nos anos 1960, ele ficou famoso no mundo todo como guru da esquerda. Ele apresentava, em seu livro, "Ideologia da Sociedade Industrial", um conceito de novo individuo. Que conceito era esse?
E - Marcuse achava que o novo individuo que estava surgindo com o capitalismo de monopólio, como eu disse, era um individuo vastamente controlado pelas forças mais abrangentes do capitalismo de monopólio. Ele criou um termo interessante: "mais-repressão", para ele, nós sofreríamos de repressão em excesso.Freud, como se sabe, criou o termo "repressão" dentro da Psicanálise para refletir sobre pressões emocionais, tormentos, fardos e poder de renúncia por que todos passam para se integrar à sociedade. Marcuse queria dizer que, se nós achávamos a análise de Freud perturbadora, ainda não tínhamos visto nada. Era a mensagem de Freud elevada ao quadrado. O conceito de "mais-repressão" era, essencialmente, a idéia de a democracia liberal ser exatamente como o fascismo sem que as pessoas percebessem. A fama de Marcuse aumentou e, depois, diminuiu, pois o mundo que conhecemos ficou muito diferente do que ele previa. Não vemos indivíduos grupos e coletividades achatados, insípidos, uniformizados e cinzentos. Discutivelmente, há muitos aspectos transtornantes na cultura de consumo contemporânea. Mas o mundo ficou diferente do que Marcuse previu. Hoje, estamos em uma nova era, segundo minha visão. Desde o início dos anos 70, quando os satélites comerciais foram lançados aos céus e se teve a possibilidade de comunicação praticamente instantânea, as circunstâncias são outras para os indivíduos e para a sociedade. Há um grupo de forças: a globalização, novas tecnologias de informação, o universalismo aparentemente inevitável do consumismo hoje... Todas essas forças se misturam. E elas estão produzindo um mundo, o atual, extraordinariamente diverso do mundo de nossos pais e, certamente, do de nossos avós.
S - Quanto à questão do consumismo, você concorda com a idéia de que somos, lentamente, cada vez mais definidos pelo que compramos e consumimos do que pelo que somos?
E - Concordo, mas com a ressalva de que isso não é universal. Acho que é importante uma tendência social importante, que parece abarcar mais e mais setores da população. O que uma pessoa compra e a exposição de bens de consumo chamativos e, agora, parte essencial da definição padrão de uma vida boa. Creio que, com a natureza...Esse aspecto, eu considero decisivo, segundo a análise marxista do capitalismo. Conforme o capitalismo busca gerar mercados cada vez mais amplos para intensificar a extração de lucro, isso se torna cada vez mais importante. Para convencer os consumidores a comprar, em nossa própria época, nos últimos 20 anos, principalmente com a economia eletrônica global, nós vimos um impressionante conjunto de novas estratégias não só para fisgar os consumidores, mas estratégias fantásticas para vender aos consumidores todo tipo de coisa que eles não necessariamente sabiam que existiam e de que não sabiam que precisavam.
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