S- Fico imaginando se a intensidade dessa sociedade de consumo e da venda de bens de consumo cria ansiedade na sociedade.
E- A ansiedade de nossa época se deve fundamentalmente à economia eletrônica global. Nós vivemos em um mundo, como sabemos, em que as empresas podem, apertando um botão, transferir suas operações de um país para outro. Nós vivemos em um tempo em que acabou a idéia de emprego para a vida toda. Richard Sennett, sociologo americano é muito bom nisso. Ele aponta que os formando americanos comuns podem esperar passar por 12 ou 13 empregos em sua carreira. E serão necessárias mudanças de especialização provavelmente 3 ou 4 vezes. É um mundo novo. Nós estamos em uma espécie...
S - Renovação de conhecimento? Se manter atualizado?
E - Não só atualizar o conhecimento que se tem, mas mudar para outra esfera de trabalho, desenvolver novas aptidões. Isso cria o tipo de mundo em que os indivíduos necessitam... É um novo paradigma. Um novo paradigma de formação, no qual exige-se que a pessoa, literalmente, se vire sozinha e assuma a tarefa de refazer, reconstruir e reinventar. A obsessão cultural atual com a transformação, com a mudança, com a mudança do individuo é o mais importante.
S - Há duas formas de ver os danos causados ao individuo nesta sociedade moderna: uma culpa a sociedade e a outra culpa o individuo. A sociedade anglo-saxônica, a Grã-Bretanha e os EUA, tende a achar que o problema é do individuo. Outras sociedades, a França, a América Latina, o Brasil, tendem a culpar a sociedade pelos problemas. O que essa diferença causa aos indivíduos, digamos? E como eles vêem os problemas em se adaptar à sociedade? Eles se culpam, culpam a sociedade?
E - Você está enfocando os Estados políticos, mas, se me permite, parte disso está calcada em mudanças organizacionais. Eu faria outro contraste. Havia formas clássicas ou tradicionais de organização, com um emprego a vida toda, pensões e tudo o mais. A ansiedade quanto ao futuro estava bastante ligada à organização. A pessoa, de fato, ou subia na vida ou não. Se o gerente logo acima do sujeito não gostasse do desempenho dele, ele não seria promovido, mas permaneceria naquela posição. Havia segurança. Contrastando com isso, há algo que vemos cada vez mais hoje. Nas organizações em rede, impulsionadas por softwares e movidas pela comunicação, houve uma mudança do modelo piramidal, no qual o controle e o comando é de cima para baixo, para o modelo horizontal. O que estamos começando a ver, em relação a empregadores e empregados, é a dificuldade de haver ansiedade atrelada a uma instituição quando essas instituição não fica parada. Os gerentes, executivos e CEOs raramentes estão presentes. O gerente logo acima nem se lembra mais de você, pois quem contratou você foi o que gerente que saiu. Como acontece com grandes empresas, tais quais Enron e outras, a demissão e a ordem para sair do prédio até meio-dia pode vir de repente. A Enron merecia ter ficado famosa muito antes, ela foi pioneira em estratégias de contratação e recrutamento que são sintomáticas do que estamos falando. Ou seja, a cada ano, era anunciado dentro da empresa que um terço da força de trabalho seria automaticamente promovido. Todo ano, era anunciado que 30% dos que restassem seriam automaticamente dispensados, despedidos. Permanecer no mesmo cargo em que estava era como receber uma mensagem dramática: "Pense bem..." "Pense bem por que porta você quer passar daqui a um ano".
S- Do mesmo modo, creio eu, podemos ver, na sociedade, o fato de que o Estado que, tradicionalmente, dava muito amparo e muita segurança, está se eximindo de muitas funções e, portanto, provocando a mesma reação, não?
E - O Estado se encontra agora em uma contradição devido à economia global. Por um lado, o Estado é uma entidade muito pequena, como temos visto, frente às recentes crises das hipotecas de alto risco, ao colapso do crédito e por ai vai. No nível da economia global, o Estado é pequeno demais para ser capaz de intervir em problemas políticos públicos mais amplos, problemas econômicos e problemas transnacionais. Por outro lado, é grande e rígido demais para resolver os problemas locais e cotidianos das pessoas. Sim O estado está se eximindo, está havendo uma transferência das responsabilidades do Estado. Elas estão sendo cada vez mais privatizadas, liberalizadas e colocadas no mercado para seu abastecimento e administração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário