15 de outubro de 2008

Amor e filosofia


As atividades do GEA-camp, o Grupo de Estudos sobre o Amor de Campinas, instiga-nos a conhecer e praticar o nosso mais nobre e digno sentimento.
Estudar o amor implica procurar fontes, informações, todo tipo de recado e comunicação que se consegue obter. Às vezes, um grande exemplo amoroso está bem próximo, no gesto do vizinho que pediu ao entregador para caprichar no lançamento do jornal para a nossa casa em dias de chuva. Outras vezes, vamos procurar na subjetividade desprevenida dos poetas, dos artistas; mais articulada e objetivamente, nos filósofos.
Um livro do sociólogo Georg Simmel sugere atender essa busca: Filosofia do Amor. É leitura interessante, mas a abordagem é menos didática e mais especulativa.
Há outra publicação atual em que o professor de filosofia e teologia Maurizio Schoepflin reuniu algumas das principais doutrinas ocidentais, a antologia O amor segundo os filósofos.
Alain de Botton publicou recentemente As Consolações da Filosofia, livro equivalente a um documentário já transmitido pela TV Cultura de São Paulo. Para o autor, apesar da fama de pessimista, o alemão Arthur Schopenhauer é realmente o "filósofo do amor".
Passeando pelo tempo, apontemos alguns dos principais pensadores que abordaram o amor.
A filosofia ocidental começa na Grécia. O primeiro pensador a refletir sobre o tema foi Platão, quatro séculos antes do "filósofo" Cristo. O sentido profundo do "amor platônico" não consiste apenas na repressão da cobiça sensual, como se acredita vulgarmente, mas na exaltação a uma forma mais elevada de desejo de beleza, para além da estética corporal, que aspira pelo arquétipo do belo.
Além de Cristo, Santo Agostinho foi um dos mais importantes pensadores da Igreja. No estertor da Idade Antiga, século 5, ele destacou o amor espiritual, "caritas", em oposição ao carnal, "cupiditas". Apesar do moralismo, ele avançou nos vôos anímicos.
No século 13, ainda nos trilhos católicos e na vigência da Inquisição, outro religioso, São Tomás de Aquino, ratifica a crença no amor a Deus.
No 16, a reforma de Martin Lutero pedia um "perfeito amor ao próximo".
No 17, Baruch Spinoza, muito revisto neste início de terceiro milênio, identifica o amor como uma forma suprema de racionalidade: o conhecimento liberta o espírito dos desejos, completando a felicidade do homem.
Jean-Jacques Rousseau, no séc. 18, destaca que o amor deve encontrar de novo sua dimensão autêntica, que a natureza lhe atribuiu e os homens distorceram: a liberdade.
No século 19, em Metafísica do Amor, Schopenhauer refere que o ser humano é impelido ao ato amoroso por um mistério: a vontade de vida que busca essencialmente preservar a espécie.
Há quase 100 anos atrás, Jean-Paul Sartre sugere que a existência vem antes da essência e realça que o vínculo amoroso é um conflito incurável, pois quem ama limita a liberdade do amado, mesmo querendo respeitá-lo.
Falecido há cerca de uma década, o lituano-francês Emmanuel Lévinas indica que a mais autêntica identidade da pessoa está ligada à responsabilidade com o outro. Aquilo que realimenta o ser humano é a interação gregária: ele deve aceitar incondicionalmente o fato de ser responsável pelo outro. Seria uma relação amorosa ditada pela necessidade social.
O nosso passeio, ainda que superficial e resumido, esboça a grande dificuldade de nos inteirar sobre o amor, ampliar suas dimensões e aplicações. O próprio tema não é, como deveria ser, uma obstinação da filosofia.
Tomara que mais estudos sobre pensadores antigos possam revelar conteúdos inéditos sobre o amor e que os novos filósofos não economizem neste assunto! Estejamos também com os corações e mentes abertas, respeitando o amor sexual valorizado por Friedrich Nietzsche e seu alerta: "as convicções são cárceres."...

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