7 de outubro de 2008

Ética de Aristóteles

Muitas são as ações das artes e ciências, assim como suas finalidades, que só são procuradas em função daquelas. Há um bem o qual todas as ciências buscam em comum e o conhecimento deste é de fundamental importância sobre nossas vidas, o objeto do nosso estudo será determina. A ciência política admite uma flutuação nos seus conceitos de belo e justo, tornando - se existente quase que somente por convenção. Flexibilidade de conceito semelhante existe referente aos bens, pois já houve quem perecesse por causa de sua riqueza ou coragem, por isso vamos nos contentar em encontrar a verdade de forma aproximada, e não absoluta. Três são os modos de vida, o do homem inútil, o da vida política e o da vida contemplativa, podemos dizer que a razão da vida dos primeiros citados (ignorantes) é a felicidade e que a honra é o bem da vida política, pois muitos a buscam incessantemente, talvez por quererem um reconhecimento de uma vida honesta, nos permitindo colocar então a virtude também como uma razão deste modo de vida, mas fica ainda o quadro incompleto. Veremos somente mais tarde a vida contemplativa. Quanto à vida na busca pelo dinheiro, ela é forçada, a riqueza é útil, mas não faz parte da nossa busca.
O homem feliz é aquele que consideramos que foi feliz durante a vida e até nos momentos mais difíceis agiu com moral e nobreza. A atividade de cada um dá, ou não, nobreza e felicidade a vida, portanto, nesta visão um homem de atitudes nobres nunca se tornará um homem infeliz por nunca ter tomado atitudes não nobres ou ignóbeis assim como também a felicidade ou os infortúnios dos amigos e decendentes deste homem antes e depois da morte não é capazes de tirar a felicidade de quem a tem ou dá-la pra quem nunca a teve. Louvamos a felicidade? Louvamos aos deuses porque os comparamos conosco e vemos que eles são melhores, mas quando nos comparamos com a justiça e a felicidade sempre louvamos aquela, talvez porque temos felicidade com algo maior, assim como o prazer, pois ambos não são louvados, nós os colocamos como algo que esta acima de nós.
A felicidade é uma atividade da alma conforme à virtude perfeita, devemos considerar a natureza da virtude: pois talvez possamos compreender melhor, por esse meio, a natureza da felicidade.
O homem verdadeiramente político também goza a reputação de haver estudado a virtude acima de todas as cosias, pois ele deseja fazer com que os seus concidadãos sejam bons e obedientes às leis. Temos um exemplo disso nos legisladores dos cretenses e dos espartanos, e em quaisquer outros dessa espécie que possa ter havido alhures. E, se esta investigação pertence à ciência política, é evidente que ela estará de acordo com o nosso plano inicial.
Duas espécies de virtude, a virtude intelectual e a moral, a primeira é adquirida com o tempo, ao passo que a virtude moral é adquirida em resultado do hábito, pois a natureza não nos dá virtudes, mas sim a capacidade de recebe-las e esta se aperfeiçoa pelo hábito, assim como as demais coisas que nos vem por natureza, primeiro recebemos a potência e depois cumprimos a atividade, nos tornamos justos praticando a justiça, um exemplo de como isso acontece é o das cidades-estados, onde os legisladores tornam a população honesta impondo leis que dizem que se deve agir de uma maneira certa, da mesma forma transforma-se uma cidade em um lugar ruim para se viver governando–a pelas regras más, assim como geramos a virtude a destruímos.
As virtudes dizem respeito a ações e paixões, e cada ação e cada paixão é acompanhada de prazer ou de dor, também por este motivo a virtude se relacionará com prazeres e dores.
As ações são ditas justas e temperadas quando são equivalentes às de um homem com estas qualidades, mas isto não significa que aquele que as praticou tenha estas qualidades, mas que apenas as praticou deste modo, o que faz parte do caminho para chegar a ter tais virtudes, pois pela prática de atos justos se faz um homem justo e pela prática de atos temperantes se faz um homem temperante, e sem a prática de tais atos jamais se tornariam assim.
O excesso e a falta destroem as boas obras de arte, por isso o artista sempre deve buscar o meio termo, assim também é em relação à virtude moral, onde as paixões e ações precisam deste. Portanto a virtude é mediana, pois busca o meio termo, que é relativo, pois a cada situação tem–se um diferente, o que pra uma pode ser em excesso para outro pode ser falta, deve–se analisar o momento.
As ações erradas, como o adultério, o roubo o assassinato, são sempre más, nelas não existe nem falta nem excesso nem meio termo, sempre, em qualquer situação são desprezíveis. Alcançar o meio termo, assim como alcançar o centro de uma circunferência não é pra qualquer pessoa, mas para a que sabe agir em relação a medida, ocasião, motivo e maneira que convém, e por ser tão difícil chegar neste meio termo e tão fácil se desviar dele devemos sempre nos distanciar de um extremo, caminhando em direção ao outro, nos aproximando da atitude mediana.
A virtude se relaciona com paixões e ações, e é às paixões e ações voluntárias que se dispensa louvor e censura, enquanto as involuntárias merecem perdão e às vezes piedade, é talvez necessário a quem estuda a natureza da virtude distinguir o voluntário do involuntário. Tal distinção terá também utilidade para o legislador no que tange à distribuição de honras e castigos.
As ações involuntárias são dignas de perdão e até compaixão, pois são realizadas por ignorância, sob compulsão ou até mesma pressão, deixando bem claro a diferença entre “na ignorância” e “por ignorância”, pois um homem bêbado age na ignorância e não por ser ignorante, o que o difere daquele que age involuntariamente é o peso na consciência, a intenção, e o que age voluntariamente tem plena consciência do que vai fazer, mesmo nos momentos de cólera, pois se considerássemos estes momentos como de inconsciência nenhum dos animais ou crianças agiriam por vontade própria, e as ações irracionais das paixões são tão humanas quanto à racionalidade e, portanto não podem ser consideradas involuntárias.
A coragem é o meio termo entre o medo, que é a expectativa do mal, e a temeridade, ou “tudo posso”. O que se deve temer? Alguns temem a desonra, o que é louvável, pois aqueles que não a temem tornam-se desavergonhados. A idéia é que algumas coisas devem ser temidas, e só o homem que enfrenta estes males é que realmente é corajoso, temos que ver ainda, que coragem é um adjetivo relativo, pois o covarde para guerra pode ser corajoso enquanto negociante. Sem duvida alguma, a morte é o maior dos medos e aquele que a enfrenta em nome da honra é o mais corajoso e digno desta.
A paixão é confundida com a coragem, pois ela, mais do que qualquer coisa leva o homem a enfrentar o perigo e às vezes, cegado pela paixão o faz não por coragem, mas por impulso, pois a paixão só torna-se coragem quando lhe é acrescentando os motivos e a escolha e para os verdadeiramente corajosos, que agem pela honra, a paixão só lhes dá mais força. Não são corajosos também os otimistas, que só lutam por estarem vencendo com freqüência, ou os ignorantes, pois estes assim que tomam o conhecimento da realidade fogem dela. È por enfrentarem o que é penoso que os homens são chamados de corajosos, pois a coragem envolve o que é penoso, pois é mais difícil enfrentar o penoso do que abster – se do agradável.
A temperança deve relacionar-se como os prazeres corporais; não, porém, com todos, pois os que se deleitam com objetos da visão tais como as cores, as formas e a pintura não são chamados temperantes nem intemperantes; e contudo, parece que é possível deleitar-se com essas coisas tanto como se deve quanto em excesso ou em grau insuficiente.
A intemperança assemelha-se mais a uma disposição voluntária do que a covardia, pois a primeira é atuada pelo prazer e a segunda pela dor, ora, a um nós procuramos e à outra evitamos; acresce ainda que a dor transtorna e destrói a natureza da pessoa que a sente, ao passo que o prazer não tem tais efeitos. Logo, a intemperança é mais voluntária.
O termo “intemperante” também se aplica a faltas infantis, por mostrarem certa semelhança como o que estivemos considerando. Ao nosso propósito atual não interessa indagar qual das duas acepções deriva da outra, mas é evidente que esta segunda é derivada. A transferência de sentindo parece bastante plausível, pois quem deseja aquilo que é vil e que se desenvolve rapidamente deve ser refreado a tempo; ora, essas características pertencem acima de tudo ao apetite e à criança, já que na realidade as crianças vivem à mercê dos apetites, e nelas tem mais força o desejo das coisas agradáveis.
Os apetites devem ser poucos e moderados, e não se oporem de modo algum ao principio racional e isso é o que chamamos de obediência e disciplina, e assim, como a criança deve submeter-se à direção do seu preceptor, também o elemento apetitivo deve subordinar-se ao principio racional.
A liberalidade, que parece ser o meio-termo em relação à riqueza. O homem liberal, com efeito, é louvado não pelos seus feitos militares, nem pelas coisas que se costuma louvar no temperante, nem por decidir com justiça num tribunal, mas no tocante ao dar e receber riquezas e especialmente ao dar.
Coisas úteis podem ser bem ou mal usadas, e a riqueza é uma destas coisas, o homem que sabe usar–la é o liberal, que é louvado mais por dar o dinheiro que tem do que por saber receber da fonte certa, ele também sabe o momento, a quantia e a pessoa certa a receber, todavia aquele que dá às pessoas que não deve, busca o dinheiro na fonte errada, tendo em vista o que não é nobre ou sofre ao dar, não pode ser considerado liberal.
Dar e gastar parece ser o uso da riqueza, ao passo que adquirir e conservar é antes a sua posse. Por isso é mais próprio do homem liberal dar às pessoas que convém do que adquirir das fontes que convêm e não das indébitas.
O pródigo, que peca pelo excesso, pode ser considerado melhor que o avarento, pois este por dar excessivamente acaba na pobreza e com ela tem grandes chances de se tornar liberal quando “criar juízo”, além disso, ao dar demasiadamente acaba por ajudar outras pessoas, diferentemente do avarento que não ajuda nem a si mesmo. Porém os pródigos não visam a honra e na ânsia de gastar não exigem pegar riqueza da fonte certa, o que os torna também semelhantes aos avarentos que não visam o nobre e são apegados demais a riqueza que vem da fonte errada, diferente dos migalheiros que não dão para que não necessitem um dia de pegar dinheiro da fonte errada e eles não invejam o bem alheio, como o avarento.
A justiça e injustiça, o homem justo é conhecido por praticar atos justos e o injusto, analogamente é conhecido por praticar atos injustos. A justiça é a virtude completa, ela resume todas as virtudes, pois é o exercício delas, do mesmo modo a injustiça é o vício inteiro, porém, o ganancioso, na maioria das vezes, não mostra seus vícios, mas sem dúvida tem uma dose de maldade e por isso deve ser repreendido. O homem que comete adultério e com isso pretende ganhar algum dinheiro é pior que aquele que o faz por vontade carnal e sofre perdas por isso, pois o primeiro é considerado injusto, sua motivação é o prazer proporcionado pelo ganho, enquanto que a este atribui–se apenas uma deficiência moral em particular, mas se alguém comete um ato em particular este só pode ser considerado injusto, portanto temos dois tipos de injustiça, a geral e a particular, sendo esta ùltima diferente do vício completo, e assim também é com a justiça pois ela tem seu lado particular, que difere do bem completo.
A justiça deve ser proporcional, e assim vemos que o justo é o proporcional e o injusto é o que viola a proporção. Uma espécie de justiça é a corretiva, pois para ela é indiferente, não importa se um homem bom lesou um homem mau, ou se o contrário aconteceu, pois o juiz perguntará quem lesou e que foi lesado, tentando trazer equilíbrio ao caso, trazendo prejuízo para o que teve “ganho” na ação, ressarcindo, de certa forma, a vítima que “perdeu” ao ser ferida ou roubada. Para isso serve o juiz, para equilibrar, e a justiça corretiva, da qual ele faz uso, serve para trazer este equilíbrio, o igual.
Cinco são as virtudes pelas quais a alma possui a verdade: a arte, o conhecimento científico, a sabedoria prática, a sabedoria filosófica e a intuição ou razão intuitiva. O conhecimento científico é a convicção de um homem, a qual chegou este de uma maneira conhecida por ele desde os pontos de partida até as conclusões, seu conhecimento puro é tido de maneira acidental. Toda arte é relacionada com a criação, invenção, no estudo das maneiras desta produção, de coisas que existem ou ainda não. “A arte e o acaso visam sobre os mesmos objetos”. A sabedoria prática consiste na capacidade de raciocinar e agir naquilo tocante ao bem e ao mau para os homens difere–se da arte por ser a arte excelente na sua elaboração e não em sua ação. A sabedoria prática é a capacidade verdadeira e raciocinada de agir no que se refere à ação humana, já o conhecimento científico é o juízo acerca de
coisas universais e necessárias, tanto suas conclusões quanto demonstrações são derivadas dos primeiros princípios.
Três espécies de disposições morais, o vício, a incontinência e a bestialidade, sua disposições contrárias são respectivamente a virtude, a continência e uma espécie de habilidade heróica, sobre-humana, divinificada, sendo esta última rara de encontrar tanto quanto ao homem bestial, que pode ser encontrado entre os bárbaros, pois os bestais possuem imensa deformidade moral.
Todo homem busca os prazeres da vida e foge dos desprazeres, mas somente quem o faz com excessividade pode ser considerado assim, mesmo que seja em apenas uma área de sua vida, assim como consideramos um mau ator, ele não é mau como homem completo, mas apenas em sua representação. A incontinência, assim como a bestialidade, pode vir da natureza, pelo hábito ou por problemas, doenças e dificuldades, como um estuprador que quando criança sofreu maus tratos e por isso quando adulto cometeu estes pecados. Todas a bestialidades e incontinências vêm da deficiência moral, e a incontinência brutal, bestial e aquilo que é excessivamente demais não é simplesmente incontinência, mas supera este conceito.
A amizade ajuda aos jovens, fazendo–os evitar os erros e escolherem os caminhos certos, e aos mais velhos, nas atividades que declinam com o passar dos anos. A amizade liga os pais com os filhos, é observada também nos outros animais, ela é a força que mantém as cidades unidas, os legisladores são seus defensores, pois devem evitar o faccionismo, que faz com que as cidades se dissolvam. Pode–se dizer que a mais autêntica forma de justiça é uma espécie de amizade pois os homens amigos não necessitam de justiça.
A amizade é nobre pois louvamos os homens de muitos amigos, estes são considerados bons, porém existem vários debates relacionados com a amizade, há aqueles que dizem que só se é amigo de seus semelhantes, enquanto outros defendem que “dois do
mesmo ofício não se entendem”, vamos tentam definir as espécies e graduações de amizades, mas antes vamos olhar o amor, pois nem todas as coisas merecem ser amadas mas apenas o bom, o agradável e o útil.
Existem três formas de amizade, a dos amigos iguais entre si, daqueles em que um é superior que o outro e daqueles que são amigos para tirar vantagem disso, que é a amizade com base na utilidade. A primeira é mais sólida, e difícil de se desfazer pois amigos iguais ente si ficam juntos pelo amor comum existente entre eles, a segunda é bem menos sólida pois, por serem diferentes entre si o que é superior deverá receber mais e, proporcionalmente, o inferior menos. Mas o caso mais propenso a dissolução é o terceiro em que se busca um ganhar em cima do outro, pois quando uma das partes não fica satisfeita não há mais razão para a amizade existir.
Uma amizade que foi feita pelo interesse pode ser desfeita quando estes não existem mais e o amigo que se sentir prejudicado pelo fim desta deve culpar a si mesmo, pois escolheu basear sua amizade em algo insólido. Já quando uma das partes muda e passa a fazer o mal, seu amigo tem o direito de deixar a amizade, pois ninguém o irá censurar por isso, porém o bom amigo quando vê que seu companheiro tem cura, ajuda este a recuperar seu caráter.
Antes de tudo é preciso situar que o autor da Ética À Nicômaco, foi Aristóteles, e nasceu na Macedônia, cidade de Estagira, Tassalônica, na costa nordeste da península da Calcídia, no ano de 384 a.C, seu pai chamava-se Nicômaco, exercia a profissão de médico do rei da Macedônia, Amintas II; residiam na corte ou na Cidade Real.
Á Ética à Nicômaco é considerado um escrito de Aristóteles maduro, com o seu sistema filosófico próprio e definitivo, seu contexto em que foi escrita a Ética à Nicômaco é a fundação do Liceu em 335 a.C. a 323 a.C., mesmo que a ética, na sua forma atual seria do ano 300 a.C.
Ao meu ver Aristóteles consegue fazer uma análise do agir humano, e conseguiu constatar todo o conhecimento e todo o trabalho do homem visa algum bem, onde o bem é a finalidade de toda a nossa ação. E essa busca do bem é o que diferencia a ação humana de todos os outros animais. A felicidade é o maior de todos os bens, e esse é o pensamento de todos os seres humanos, independente de ser um homem comum ou de um grande pensador, ou seja, o bem viver e o bem agir é identificado com o ser feliz, pois é uma ação conforme a virtude, visando o melhor. E a virtude está no meio termo entre os extremos, ou seja, evitar os excessos.
A ética aristotélica, dizendo que sempre se pensa a ética na pólis; não há ainda a concepção de indivíduo separado de sua cidade. A vida ideal e feliz é a vida racional; essa vida feliz supõe a estima de si mesmo e a amizade.
Aristóteles analisa as funções do ser humano: uma é viver, mas esta é comum aos homens e às plantas, outra é sentir, que também é comum ao homem e aos animais, a terceira, e a que distingue verdadeiramente o homem, é a atividade racional; portanto, essa é sua atividade própria, e assim a vida do homem deve consistir em viver conforme a razão. Mas isso não basta: a razão deve dirigir e regular todos os atos da vida do homem, e isto consiste essencialmente na vida virtuosa.
Aristóteles admite que haja luta na alma, um elemento irracional que pode causar-lhe desequilíbrio. Mas, ainda assim, a parte racional se sobrepõe, pois tem poder persuasivo sobre a irracionalidade, constituindo-se a razão uma atividade virtuosa. E o homem, pode ser bom de duas maneiras: vivenciando as virtudes morais, como a bondade, a justiça, etc., ou na atividade das virtudes intelectuais no conhecimento e na inteligência que elas podem alcançar para o seu discernimento.


Bibliografia

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de W. D. Rosá. Col. Os pensadores. São Paulo: Editora Abril Cultural, 1973.

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