7 de outubro de 2008

Os mitos raciais (Juan Comas)

Encontramos desde os primórdios da humanidade, tentativas de alguns povos e nações de alto proclamarem-se superiores. E, não obstante, ser superior no que diz respeito às qualidades e aptidões, esses povos achavam que podiam escravizar e subjugar os demais povos.
Alguns povos como os judeus, os gregos, os egípcios usaram e abusaram das palavras superiores, inferiores.
Não obstante, tudo isso, pode-se afirmar que, falando de uma maneira geral, não havia verdadeiro preconceito racial antes do século XV, uma vez que, antes desta data, a divisão da humanidade prendia-se não tanto o antagonismo de raças mas sobretudo à animosidade entre cristãos e infiéis, uma diferença mais superficial desde que as divergências entre as religiões podem ser vencidas enquanto que a barreira racial biológica é intransponível.
Mais tarde, a teoria da evolução, exerceu grande influência para os que se achavam superiores. Foi como uma ideologia moderna de justificação para o preconceito.
Aquela escravidão, as matanças, não era outra coisa a não ser a seleção natural, onde os mais fortes sobrevivem e os fracos são liquidados.
Os mitos do sangue e da inferioridade dos mestiços - este mito é facilmente quebrado, pois uma pesquisa mais séria e honesta, concluirá que não existe raças puras. A fusão de raças tem-se processado desde os primórdios da vida humana sobre a terra, muito embora seja evidente que as maiores facilidades de comunicações e o crescimento da população a tenha incrementado nos dois últimos anos. Este mito se sustenta também pela passagem da hereditariedade pelo sangue. No entanto, o sangue não tem nada a ver com o processo genético, mas que também já está provado que a mãe não fornece sangue ao feto, o qual desenvolve o seu próprio sangue. Isso explica porque uma criança pode pertencer a um grupo sanguíneo diferente do de sua mãe.
Em conseqüência disso, se cai no mito negro (o preconceito da cor). Este preconceito é tão forte em certas pessoas que dá origem a fobias quase patológicas. As maiores humilhações sofridas pelos negros são as restrições sociais e os insultos pessoais: a exclusão dos viajantes de certos trens e outros coletivos, bares, etc. Chegou ao cúmulo de Hankins afirmar que o volume do cérebro é menor no negro e conclui que o negro é mentalmente inferior. Este mito foi posto de lado em 1935 Kohbrugge, fez um estudo sobre o cérebro e concluiu que o cérebro do negro não difere em nada do cérebro do branco.
Outro mito interessante é o mito do judeu. Esses, formam um grupo humano que tem despertado o mais intenso ódio em quase todos os países e em quase todas as épocas. Desde muito cedo, os semitas se mesclaram com um sem-números de vizinhos da Ásia Ocidental, tais como os cananeus, os filisteus, os árabes, os hititas etc. Todos esses aspectos são provas da variabilidade e falta de unidade morfológica dos povos judeus.
Os arianos também criaram o seu mito. Depois da guerra franco-prussiana de 1870, o arianismo , de uma doutrina que proclamava a inata superioridade de uma classe social, se viu transformado num dogma da superioridade de certas nações. O arianismo acabou criando a antropossociologia – seleção natural. Exames de crânios foram usados para provar que membros de uma classe social mais elevada tinham um índice cefálico menor do que o povo comum, isto é, os crânios destes últimos eram arredondados ou braquicefalos.
A forma nacionalista do racismo ariano encontrou em alguns adeptos convictos que desempenharam um papel importante como propagandistas e fizeram com que a teoria da supremacia da raça ariana ou teutônica lançasse raízes na Alemanha. Mas toda esta propaganda foi ofuscada por uma pesquisa que Guilherme II encomendou. Este queria um mapa racial da Alemanha que deveria ser feito e mostrado a incidência do elemento ariano. Entretanto, os dados recolhidos não puderam ser publicados, tão marcante era a heterogeneidade, e em regiões inteiras, como no ducado de Baden não fora encontrado nenhum indivíduo do tipo nórdico puro. Tem ainda o anglo-saxão e o celtismo.
O que fica claro é que a origem do racismo não é científico mas política. É usada por inimigos para justificarem suas lutas, muito embora possa pertencer ao mesmo grupo racial, ou por aliados para descobrirem uma identidade racial mesmo quando são morfologicamente distintos.

Bibliografia
COMAS, J; LITTLE, K. L; SHAPIRO, H. L; LEIRI, M;LEVI-STRAUSS, C. Raça e Ciência I. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1970.

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