14 de dezembro de 2008

Máximas da ética de Epicuro - fragmentos

Chamamos ao prazer princípio e fim da vida feliz. Com efeito, sabemos que é o primeiro bem, o bem inato, e que dele derivamos toda a escolha ou recusa e chegamos a ele valorizando todo bem com critério do efeito que nos produz.

Nem a posse das riquezes nem a abundância das coisas nem a obtenção de cargos ou poder produzem a felicidade e a bem-aventurança; poduzem-na a ausência de dores, a moderação nos afetos e a disposição de espírito que se mantenha nos limites impostos pela natureza.

A ausência de perturbação e de dor são prazeres estáveis; por seu turno, o gozo e a alegria são prazeres de movimento, pela sua vivacidade.

Quando dizemos, então que o prazer é o fim, não queremos referir-nos aos prazeres dos intemperantes ou aos produzidos pela sensualidade, como crêem certos ignorantes,que se encontram em desacordo conosco ou não nos compreendem, ma ao prazer de nos acharmos livres de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma.

A imediata desaparição de uma grande dor é o que produz insuperável alegria: esta é a essência do bem, se o entendemos direito, e depois nos mantemos firmes e não giramos em vão falando do bem.

E como o prazer é o primeiro e inato bem, é igualmente por este motivo que não escolhemos qualquer prazer; antes, pomos de lado muito prazeres quando, como resultado deles, sofremos maiores pesares; e igualmente preferimos muitos dores aos prazeres quando, depois de longamente havermos suportado as dores, gozamos de prazeres maiores. Por conseguinte, cada um dos prazeres possui por natureza um bem próprio, mas não deve escolher-se cada um deles; do mesmo modo, cada dor é um mal, mas nem sempre se deve evitá-las. Convém, entã, valorizar todas as coisas de acordo com a medida e o critério dos benefícios e dos prejuízos, pois que, segundo as ocasiões, o bem nos produz o mal e, em troca, o mal, o bem.

Formula a seguinte interrogação a respeito de cada desejo; que me sucederá se se cumpre o que quer o meu desejo? Que me acontecerá se não se cumpre?

Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros são naturais e não necessários; outros nem naturais nem necessários, mas nascidos apenas de uma vã opinião.

Aqueles desejos que não trazem dor se não são satisfeitos não são necessários; o seu impulso pode ser facilmente posto de parte quando é difícil obter a sua satisfação ou parecem trazer consigo algum prejuízo.

Fonte: Os pensadores - Epicuro

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