15 de janeiro de 2009

Lutero e a justificação

Martinho Lutero foi um monge piedoso, rigoroso e coerente, e queria alcançar a perfeição cristã. Embora Lutero levasse com zelo e generosidade interior a sua vida de monge, predominava nele a experiência de ser pecador. O evangelho, em vez de ser intuído como uma experiência de alegria e de libertação, era vivido como lei. E isso o jogava no desespero.
A Penitência e da Eucaristia, habituais meios de santificação, não eram suficientes para acalmar sua consciência e alcançar a certeza da bênção divina. Parecia-lhe presunção que o homem, pelos próprios merecimentos, pudesse ficar na presença santíssima de Deus, pois, tdos são pecadores. Imbuídos das idéias agostinianas, acreditava que, sem a graça de Deus, de nada valeriam as boas obras humanas para a salvação. O problema principal para Lutero parecia consistir numa dupla pergunta: como pode o homem pecador ser justificado perante Deus? E como pode ter a certeza psicológica disso?
Lutero, em plena crise, introjetou: as boas obras estão irremediavelmente contaminadas pelo mal que deriva do pecado original, idéia ja apresentada e defendida por Agostinho contra os pelagianos. Lutero de fato, se apaixonava pela leitura dos tratados antipelagianos de Santo Agostinho e das cartas de São Paulo.
A partir da experiência da torre, Lutero compreendeu que é Deus que comunica ao homem a sua justiça e a sua graça, e o salva. Sob a luz de Agostinho, Eckart, Gerson, Tauler e outros, começou a perceber o significado da justiça de Deus: a obra salvadora de Deus não consistia na punição, mas na Sua decisão misteriosa de tornar o pecador justo em virtude do próprio amor divino. A salvação passou a ser compreendida como pura graça de Deus. O homem não se justificava por seus méritos, mas por sua fé. A doutrina da salvação e justificação pela fé, assim, resolvia a angústia religiosa de Lutero.
As afirmações de Lutero sobre a justificação pela fé estão fortemente condicionadas pela sua realidade pessoal (angústia, dúvida, busca de sentido, pessimismo) e pelo contexto de seu tempo: as práticas de piedade popular, as indulgências, os abusos praticados pela cúria romana, a exigência de certas obras (requeridas pela cúria para manter seu luxo) para obter a salvação. A experiência de Lutero e sua interpretação dos textos paulinos fizeram com que o apóstolo Paulo fosse visto como alguém de consciência introspectiva, contra o legalismo da religião judaica (e defensor da sola fide), e anti-semita (pois o judaísmo era uma religião legalista) que exigia obras da Lei.

Fonte: anotações do editor Marcos

Nenhum comentário: