19 de janeiro de 2009

Substrato Religioso: O Fundamento do Comportamento da Sociedade Contemporânea?

Os arranjos sociais originários em nossa cultura modificaram substancialmente a maneira com a qual era adotado o comportamento humano, mais precisamente no tocante ao formato comportamental humanístico.

Novos preceitos foram estabelecidos com excepcional celeridade, obedecendo às regras evolutivas a que o ser humano está suscetível, corolário da capacidade de criar normas nas relações com o restante das pessoas interessadas nesse modelo contemporâneo de convivência grupal. Diga-se de passagem, que tal pensamento resta à margem da coletividade, como se depreenderá adiante acerca do contexto abordado.

Para Durkheim (1970:83), toda religião é um fenômeno social, de origem e de natureza social; representa a intenção de toda sociedade, bem como das pessoas que a integram, de salvaguardar os princípios morais dos valores sobre os quais se funda. Isso porque o ser humano necessita de algo maior do que sua própria existência para lhe garantir, assegurar o que está além de suas forças. Sem dúvida, é uma característica inerente a todo o indivíduo, direta ou indiretamente, possua algum credo ou não.

Segundo Milanesi (1974:55), a religião se converte em cultura, pois a experiência religiosa primordial, espontânea e carismática consolida os comportamentos periódicos que progressivamente se ajustam em modelos normativos. Vale dizer, em síntese, que em todo conjunto de pessoas organizadas com um objetivo acordado em comum haverá uma inclinação de práticas religiosas como um substrato mantenedor do conhecimento supletivo do homem.

A despeito da transcendental obediência aos costumes de uma localidade ou povo específico, há, via de regra, a consubstanciação de um fenômeno evidente, mas pouco combatido: a concretização dos preceitos religiosos, encontrando, posteriormente, princípios filosóficos que balizam, sedimentam a aplicação daqueles, haja vista inúmeros trabalhos de grandes estudiosos da Ciência da Filosofia concatenando muitos aspectos de suas teorias às regras metafísicas.

A condição de um tão constatado pluralismo religioso pode constituir determinados contextos num fator de desintegração ou de menor integração de um sistema social, concernente às diversidades em volta. De certa forma, o homem evoluiu em muitos aspectos; entretanto, regrediu noutros. Exemplificativamente: o incremento considerável em áreas como a tecnologia da informação, da saúde, da gestão financeira etc. são avanços notórios e de grande valia a toda raça humana. Em contrapartida, a carência de uma maior atenção em relacionamentos e regras de conduta pública ante a maior parcela do grupo pelo qual está agregado carece de uma completa remodelação, primariamente em assuntos tangentes à educação.

A crescente preocupação da sociedade com o bem-estar coletivo é concebida, originariamente, através dos altos índices da estatística da violência no seio da comunidade, seja ela abstrata ou concreta (diga-se, moral ou física, respectivamente), vislumbrados com certa perplexidade. De fato, tais indicadores têm gerado políticas e projetos sociais cujo feito, sobretudo, é a refrega à ausência de objetividade dos representantes do povo e a diminuição dos impactos na instituição familiar, ressalte-se.

Pode-se afirmar que a proposição de regras de conduta mais austeras defluem de uma cultura paradoxal. Esta, por seu turno, representando a iniciativa de estimular determinados vínculos sociais que se originam da concentração de idéias transformadoras, as quais, entretanto, nas ideologias de pleno consumo comumente observadas no dia-a-dia. A referida iniciativa pode ser analisada sobre as complexas condições em que a sociedade converge a produção de suas relações consoante ao seu próximo, isto é, num mero tratamento cortês ou não a um indivíduo desconhecido.

O instituto religioso vincula-se diretamente às exigências humanas, de modo a responder total ou parcialmente as necessidades humanas. De todo em vista, faz-se mister a atualização e o desenvolvimento dos atuais regramentos vigentes, tais como um poderoso ensino comportamental de base, consolidando no futuro cidadão o pensamento de respeito às tradições e costumes tão valorizados outrora, mas rejeitados em ocasiões cruciais nos dias atuais. Essa alteração precisa da “anuência” de cada indivíduo, qual seja, a aceitação sem coercitividade, puramente idealizada nos planos primários de educação cívica, norteando a posição correlativa dos componentes do formato em comento.

Consoante Weber (2004:23), o passo primitivo para a fase inicial de uma experiência religiosa segue um processo de rotinização de carisma, ou seja, o processo de transformação do carisma da autoridade em carisma da posição adotada pela pessoa, concebendo, como produto dessa mudança, a integração grupal. Conforme o comentado acima, como poderia a sociedade contemporânea absorver o conceito exposto pelo autor citado anteriormente desse ponto de vista? Sem dúvida, as diferentes maneiras de se vislumbrar o mundo atualmente conflitariam incisivamente com os defensores de tal premissa.

Seguindo uma tendência mundial e fruto de movimentos de reestruturação social há muito almejado por diversos meios exploratórios oriundos de culturas fragmentadas, moralmente expondo, a sociedade atual aponta como um aviltante conglomerado de condutas dos indivíduos que a compõe, pelos quais alicerçam significante parcela da coletividade, engendrando, ainda que eclipsadas, promessas irrisórias de melhoria em critérios morais e comportamentais. Urge, nesse sentido, uma reflexão acerca dessa questão: reconhecer a paulatina degradação das normas de convívio e relações interpessoais, e, ainda, a concepção de proposituras que venham agir em uma vertente incumbida de resgatar os valores há tanto relegados pela onda de modernidade deflagrada pela atual ideologia da juventude, a qual, em uma tentativa de expandir seus desejos materiais que se sobrepõem a tudo e a todos, corroboram essa perspectiva de decomposição de preceitos tão importantes à manutenção da convivência mútua.

Fonte: Mundo dos filósofos

DURKHEIM, E. As Formas Elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Paulus, 1970.

MILANESI, J. Sociologia de la Religion. Madrid: Central Catequistica Salesiana, 1974.

WEBER, M. Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2004.

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