17 de janeiro de 2009

Vaticano: Teólogo jesuíta norte-americano proibido de dar aulas e publicar livros


O jesuíta e teólogo norte-americano Pe. Roger Haight, cujos escritos sobre religiões cristãs e não-cristãs foram censurados pelo Vaticano em 2005 por causar “graves danos aos fiéis”, recebeu ordens de Roma para parar de ensinar e publicar sobre assuntos teológicos.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 05-01-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Fontes contaram ao National Catholic Reporter que a Congregação para a Doutrina da Fé, a agência doutrinal do Vaticano, comunicou as restrições aos jesuítas na primavera [do hemisfério norte] de 2008. Aparentemente, eles ficaram no meio de muitas discussões envolvendo o Vaticano, a liderança jesuíta em Roma e a província jesuíta de Nova Iorque. Entre outras medidas, os oficiais jesuítas nos EUA, segundo a imprensa, consultaram o falecido cardeal jesuíta Avery Dulles em um esforço para resolver os assuntos.


Um porta-voz jesuíta em Roma confirmou as medidas, mas disse que uma “resolução final” ainda não foi alcançada no caso Haight, indicando que as proibições no ensino e na publicação podem ser medidas provisórias.
“O processo continua”, disse o padre jesuíta José de Vera, que está terminando seu período como portavoz da ordem.


Haight recusou-se a comentar, mas fontes jesuítas disseram ao NCR que ele pretende “sujeitar-se totalmente” às restrições. Essas fontes disseram que Haight esteve trabalhando com seus superiores jesuítas na resposta às questões do Vaticano.
Notícias sobre a recente ação do Vaticano foram publicadas no mês passado pelo jornalista católico David Gibson na página eletrônica da revista Commonweal.
Na prática, a ordem significa que Haight, ex-presidente da Sociedade Teológica Católica dos EUA, não irá mais ensinar no Seminário da União Teológica, em Nova Iorque, onde ele é professor visitante atualmente. Ainda não está claro qual papel futuro Haight poderá desempenhar na União Teológica, fundada em 1836 como uma instituição presbiteriana, que hoje se descreve como “multidenominacional”.


Em sua notificação, em 2005, citando “graves erros doutrinais” no livro de Haight, “Jesus, Símbolo de Deus” (Paulinas, 2000), a Congregação para a Doutrina da Fé estipulou que, até que as posições de Haight fossem corrigidas, ele estava proibido de ensinar teologia católica. Então, Haight e os jesuítas acreditaram que ensinar em uma instituição não-católica iria satisfazer tal requisição. A recente ação da Congregação para a Doutrina da Fé deixa claro que ele não deve ensinar em nenhum lugar.
Haight, 72, também não poderá publicar qualquer novo documento sobre temas teológicos, apesar de que poderá terminar um projeto sobre a espiritualidade de Santo Inácio de Loyola, o fundador da ordem jesuíta.


A notificação original do Vaticano de 2005 não restringia a possibilidade de Haight de publicar novos documentos e, desde “Jesus, Símbolo de Deus”, ele produziu diversos outros trabalhos, incluindo um estudo da igreja de três volumes intitulado “Christian Community in History” [A comunidade cristã na história, em tradução livre] e “O futuro da cristologia” (Paulinas, 2008) [além de “Dinâmica da teologia” (Paulinas, 2007)]. Um oficial do Vaticano disse que esses trabalhos “reiteraram” amplamente as visões que provocaram a censura inicial e fizeram parte das motivações para as novas restrições.


“Nós esperávamos que Haight fosse corrigir suas posições à luz da notificação”, disse o oficial. “Está claramente óbvio que isso não aconteceu”.
Anteriormente, Haight foi removido de uma posição na Escola de Teologia de Weston, dirigida pelos jesuítas, em Cambridge, Massachusetts, nos EUA, pela Congregação para a Educação Católica do Vaticano.
“Jesus, Símbolo de Deus” foi descrito por Haight como uma tentativa de expressar as doutrinas tradicionais sobre Cristo e a salvação em uma linguagem apropriada à cultura pós-moderna. Em particular, o livro oferece uma leitura teológica positiva de religiões não-cristãs e figuras salvadoras. A Congregação para a Doutrina da Fé declarou que o livro coloca em perigo doutrinas tradicionais sobre assuntos como a divindade de Cristo, a Trindade, o valor salvífico da morte de Cristo na Cruz e a importância da igreja,


Muitos observadores veem a ação sobre Haight como parte de um interesse mais amplo com relação à “teologia do pluralismo religioso”, no que se refere às várias tentativas de tratar as religiões não-cristãs como veículos de salvação em seu próprio direito. Antes de sua eleição a papa, Bento XVI repetidamente alertou que tais teologias, se fossem muito longe, levariam ao relativismo religioso – a ideia de que uma religião é tão boa quanto as outras. Em particular, os críticos estão preocupados que tais abordagens podem consumir as energias missionárias da igreja.
Desde sua publicação há oito anos, “Jesus, Símbolo de Deus” gerou um vivo debate teológico. Alguns analistas veem-no como uma nova abordagem cristológica muito estimulante, enquanto outro dizem que Haight, um ex-presidente da Sociedade Teológica Católica dos EUA, vai muito longe ao descartar ou reinterpretar doutrinas centrais.


Independentemente do que possam pensar sobre os méritos teológicos do trabalho de Haight, algumas fontes disseram ao NCR que acharam a recente ação do Vaticano excessivamente “punitiva”.
“Isso é difícil de nos convencer” disse um oficial jesuíta. “Não está claro qual o objetivo em fazer com que ele deixe a União, já que suas opiniões não representam mais a teologia católica oficial”.
Um porta-voz do Vaticano não respondeu imediatamente a um pedido para comentar o assunto.


Confira aqui a íntegra da notificação de 2004 da Congregação para a Doutrina da Fé: “Notificação sobre o livro ‘Jesus, símbolo de Deus’ do padre Roger Haight, S. J.”, em português.



Fonte: Unisinos

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