28 de fevereiro de 2009

O QUE É PESSIMISMO FILOSÓFICO?

De que modo encarar a vida e ver nela a esperança? É dessa forma que muitos pensadores desde a Antiguidade clássica pensam a vida. O pessimismo filosófico é uma expressão no entanto nova, mas ensejada desde os gregos antigos que envolviam a indiferença na ausência de prazer.

A palavra “pessimismo” significa, no geral, crença de que o estado das coisas, em alguma parte ou em sua totalidade, é o pior possível. Foi entendido como uma antítese ao otimismo prático, sendo um termo profundamente recente que adquire sua primeira instância por volta do fim do século 18, figurado em Georg Christoph Lichtenberg (1742-1799), Jacques Mallet du Pan (1749-1800) e Samuel Taylor Coleridge (1772-1834). Só será enfocado como experiência de vida e realmente retratado pela primeira vez no século 19, com os poetas Giacomo Leopardi (1798-1837) e Lord Byron (1788-1824).

Podemos ainda definir o pessimismo em algumas esferas: o pessimismo absoluto, que é o desprovido de sentido na vida, no qual tudo gira contra si e efetivamente não há nada no mundo que possa trazer algum bem; o psicológico ou prático, que é uma atitude subjetiva na vida como revolta ao mundo fomentada por um sentimento ferido com complicações psíquicas influenciadas pela depressão, angústia, etc.; e o pessimismo teórico ou metafísico, tornado objetivo pela prática da razão e da insatisfação da vida como ela é – vivenciá-la com a consciência de que nada se pode fazer para melhorar. Diferentemente do absoluto, que pode levar ao suicídio, o metafísico leva o homem a uma atitude metódica perante a vida e a seus valores.

Um pessimismo que não deixa de ser metafísico é o pessimismo bíblico, representado na história de Israel, espécie de paralelo com o sofrimento humano, desde o infortúnio de Abel até a violenta morte de Jesus, deixando vestígios de uma idéia de sofrer, como em Jó e Jeremias.
O termo “melancolia” é um termo de origem grega que significa tristeza sem motivo. A melancolia pode ser entendida como um sentido de ter algo a realizar, mas falta a compressão do que é este algo. O paradigma melancólico está intimamente ligado à reflexão sobre o corpo, é no corpo que ocorre a melancolia – nas tessituras da constituição do corpo que surge a melancolia. O pessimista é levado à melancolia por meio da angústia e do desespero, consumido pelo sofrimento de uma dor que o faz entender sua infelicidade perante o mundo e a vida, surgindo o tédio e a solidão.


Entre os gregos antigos muito se escreveu sobre o pensamento trágico, mas a idéia de pessimismo mesmo não houve. Em praticamente todas as tragédias gregas há catástrofes e conclusões infelizes, vide Édipo Rei.

Entre os padres medievais, houve um apologista chamado Arnóbio de Sica que escreveu sete livros intitulados Adversus Nationes, nos quais defende que os males superam os bens e é por este motivo que acontecem tantas desgraças no mundo. Arnóbio também acredita que essas mesmas infelicidades existiriam se o homem não existisse.

Entre os modernos podemos chamar de pessimistas os reconstituidores do ceticismo como Montaigne e Voltaire, com suas investidas contra o cristianismo e contra o otimismo de Leibniz, por meio do livro Cândido.
Na literatura encontramos muitas variações pessimistas. Johann Wolfgang Goethe (1749-1832), aclamado escritor alemão, autor de Fausto e Os Sofrimentos do Jovem Werther; Charles Baudelaire (1821-1867) e seu As Flores do Mal; o brasileiro Augusto dos Anjos (1884-1914), autor de Eu, de grande inspiração schopenhaueriana; e ainda escritores como Thomas Mann, Leon Tolstoi, Fiodor Dostoieviski e Lord Byron. Ainda que estes últimos não fossem autores pessimistas, suas obras refletiam essa atmosfera.

A paternidade do pessimismo absoluto e metafísico é atribuída ao filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), por meio da obra O Mundo como Vontade e Representação. Schopenhauer trabalhou com a concepção de que não há realização ou felicidade completas neste mundo, que seria apenas uma pseudo verdade e, por isso, nos enganamos enquanto vivemos. Schopenhauer diz que “este é o pior dos mundos possíveis”, que “era melhor não ter nascido” e “toda vida é sofrimento”. Com base no autor alemão, outros pensadores começaram a testemunhar o modo de vida pessimista e sua intrínseca ligação com a filosofia. Entre eles, teríamos Eduard von Hartmann (1842-1906); Søren Kierkegaard (1813-1855); Friedrich Nietzsche (1844-1900); Max Horkheimer (1895-1973); Miguel de Unamuno (1864-1936); Martin Heidegger (1889-1976) e Emil Cioran (1911-1995).

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