19 de fevereiro de 2009

Para padre luso, críticas de Boff refletem 'ressentimento'


Lisboa, 12 fev (Lusa) - O padre português António Vaz Pinto, que conviveu com Joseph Ratzinger, hoje papa Bento 16, afirmou que o teólogo brasileiro Leonardo Boff foi "infeliz" nas declarações contra o pontífice, motivadas por um antigo "ressentimento", embora admita "erros dos serviços do Vaticano" na reintegração do bispo que nega o Holocausto.

"Infelizmente, noto também um bocado de ressentimento [de Boff] por uma história pessoal que não deveria aqui estar", disse à Agência Lusa o ex-alto comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, que, assim como Boff, conviveu na Alemanha com Ratzinger.Boff defendeu que o papa se revelou "politicamente desastrado" e um "pastor medíocre", pela forma como geriu as declarações de bispos católicos sobre o Holocausto, e que, desde que Ratzinger foi ordenado cardeal e presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, "mostrou suas raízes bávaras, de um cristianismo rústico e muito tradicional".Vaz Pinto ressaltou o papel "muito positivo e marcante" de Boff na teologia, "sobretudo na sul-americana e da Libertação", mas também a "situação pesada" em que abandonou a Igreja e a Ordem Franciscana."São declarações um pouco infelizes. [Raztinger] não é de todo um teólogo rústico devido às suas origens bávaras, como ele diz, é um homem finíssimo e as suas obras de teologia são indiscutivelmente de grande qualidade", afirma o diretor da revista Brotéria.

QuestõesBoff e o então cardeal Ratzinger protagonizaram um intenso debate ideológico, sobretudo na década de 1980, que culminou num processo formal contra Boff no Vaticano, e na imposição de um "silêncio obsequioso" ao frade brasileiro, que acabou por se desligar da Igreja em 1992.A abordagem de Boff foi qualificada pelo Vaticano como "uma tentativa superficial e oportunista de adequar a suas preferências políticas, no caso a revolução marxista-leninista, à milenar teologia católica", segundo a revista Veja.Para Vaz Pinto, "não deve ter havido o cuidado suficiente" da parte do Vaticano na suspensão da excomunhão dos quatro bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio 10º , entre eles o inglês Richard Williamson, que pouco depois de readmitido pelo Vaticano negou publicamente o Holocausto.

"Houve um erro de serviços que estavam em contato com eles [bispos] que deviam saber quais eram as suas opiniões - ainda por cima parece que ele já tinha dito coisas semelhantes no passado. Isto não foi detectado e acontece esta coisa lamentável que é [Bento 16] anunciar a reintegração e no dia seguinte Williamson negar o Holocausto", afirmou.As declarações causaram grande celeuma na Alemanha, e a própria chanceler Angela Merkel pediu explicações ao Vaticano."Quando percebeu o que se tinha passado, o papa foi claríssimo e exigiu a retratação pública [de Williamson], sem a qual ele não será reintegrado. Fez o que havia a fazer", defendeu.O bispo Richard Williamson integra um grupo de prelados que contesta o Concílio Vaticano 2º e as propostas de reconciliação entre católicos e judeus."Reconciliação"

"Tanto este papa como o anterior têm feito tudo para que se encontre uma solução de compromisso que passa pelo reconhecimento daqueles que se separaram da doutrina do Concílio Vaticano 2º. Não é vir como estavam; se não reconhecem, a reconciliação é impossível", afirmou Vaz Pinto."Um papa tem uma obrigação estrita muito forte de fazer tudo para manter a unidade da Igreja. Houve falhas, mas todas as pessoas e todos os papas as têm. Atribuir isto a uma atitude ultraconservadora, e que estes são os bispos da simpatia [de Ratzinger], a meu ver isso é música", defendeu.A contemporização, quer com setores conservadores da Igreja, quer com os mais progressistas, é o "preço a pagar para manter uma união", disse Vaz Pinto.

Colaborador: Rodney

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