Sei que este artigo pode causar certa repulsa entre os digníssimos filósofos. Pois, não existe seres mais iluminados e críticos que esses nossos acadêmicos.
No entanto, vou usar meu velho e bom amigo Erasmo para fazer um elogio a Vaidade. Já sei disso filósofos. Vaidade não é assunto de filósofo. Mas, que assunto a filosofia deve então tratar?
Quanto à imputação de sarcasmo, não deixarei de dizer que há algumas semanas existe este desejo de falar sobre a vaidade.
Afirmo: a vaidade está em tudo. Na natureza, nas pessoas, nos astros, em fim, em tudo.
Com efeito, como no instante em que surge no céu a brilhante figura do sol, ou como quando, após um rígido inverno, retorna a primavera com suas doces aragens e vemos todas as coisas tomarem logo um novo aspecto, matizando-se de novas cores, contribuindo tudo para de certo modo rejuvenescer a natureza, assim também, logo que me vistes (a vaidade), transformastes inteiramente as vossas fisionomias. Sim é verdade! A vaidade muda as fisionomias das pessoas. Bastou, pois a minha presença, ou seja, a vaidade, para eu obter o que valentes oradores mal teriam podido conseguir com um longo e longamente meditado discurso: expulsar a tristeza de vossa alma e colocar novo ar em vossas fisionomias.
Para dizer a verdade, não nutro nenhuma simpatia pelos sábios que consideram todo e impudente elogiar a própria vaidade. Poderão julgar que seja isso uma insensatez, mas deverão concordar que uma coisa muito decorosa é zelar pelo próprio nome.
De fato, que mais poderia convir à vaidade do que ser arauto do próprio mérito e fazer ecoar por toda parte os seus próprios louvores? Haverá, talvez, quem reconheça melhor em mim o que eu mesma não reconheço.
Sou eu mesma, como vedes: sim, sou eu aquela verdadeira dispenseira de bens, a que os latinos chamam Stultitia e os gregos, Moria. E que necessidade haveria de vo-lo dizer? O meu rosto já não o diz bastante? Se há alguem que desastradamente se tenha iludido, tomando-me por Minerva ou pela Sabedoria, bastará olhar-me de frente, para logo me reconhecer a fundo, sem que eu me sirva das palavras, que são a imagem sincera do pensamento. Não existe na vaidade simulação alguma, mostrando-me eu por fora o que sou no coração. Sou sempre igual a mim mesma, de tal forma que, se alguns dos meus sequazes presumem não passar por tais, disfarçando-se sob a máscara e o nome de sábios, não serão eles mais do que macacos vestidos de púrpura, do que burros vestidos com pele de leão.
Mas retomemos o fio do raciocícinio. Portanto, sabeis agora o meu nome, homens, VAIDADE! Mas que epíteto poderei aplicar-vos? Sem dúvida, o de estultíssimo! Que vos parece? Poderia, acaso, a deusa Vaidade dar epíteto mais digno aos seus adoradores, aos iniciados nos seus mistérios?
Por tudo isso, observai, senhores, que, quanto mais o homem se afasta da vaidade, tanto menos goza dos bens da vida, avançado de tal maneira nesse sentido que logo chega à fastidiosa e incômoda velhice, tão insuportável para si como para os outros. E, já que falamos de velhice, não fiqueis aborrecidosse por um momento chamo parra ela a vossa antenção. Oh! como os homens seriam lastimáveis sem a vaidade, no fim dos seus dias!
Penso, a velhice tem muito com a juventude. A juventude tem muito com a idade infantil e consequentemente com os bebês. Bebês tem muito com o sexo. Mas, não quero acreditar que o belo sexo tolo ao ponto de se aborrecer comigo pelo que eu lhe disse, pois também sou mulher, eu sou a Vaidade. Ao contrário, tenho a impressão de que nada pode honrar tanto as mulheres como associá-las à minha glória (vaidade), de forma que, se julgaram dierto as coisas, espero que saibam agradecer-me o fato de que eu as ter tornado mais felizes do que os homens.
No entanto, vou usar meu velho e bom amigo Erasmo para fazer um elogio a Vaidade. Já sei disso filósofos. Vaidade não é assunto de filósofo. Mas, que assunto a filosofia deve então tratar?
Quanto à imputação de sarcasmo, não deixarei de dizer que há algumas semanas existe este desejo de falar sobre a vaidade.
Afirmo: a vaidade está em tudo. Na natureza, nas pessoas, nos astros, em fim, em tudo.
Com efeito, como no instante em que surge no céu a brilhante figura do sol, ou como quando, após um rígido inverno, retorna a primavera com suas doces aragens e vemos todas as coisas tomarem logo um novo aspecto, matizando-se de novas cores, contribuindo tudo para de certo modo rejuvenescer a natureza, assim também, logo que me vistes (a vaidade), transformastes inteiramente as vossas fisionomias. Sim é verdade! A vaidade muda as fisionomias das pessoas. Bastou, pois a minha presença, ou seja, a vaidade, para eu obter o que valentes oradores mal teriam podido conseguir com um longo e longamente meditado discurso: expulsar a tristeza de vossa alma e colocar novo ar em vossas fisionomias.
Para dizer a verdade, não nutro nenhuma simpatia pelos sábios que consideram todo e impudente elogiar a própria vaidade. Poderão julgar que seja isso uma insensatez, mas deverão concordar que uma coisa muito decorosa é zelar pelo próprio nome.
De fato, que mais poderia convir à vaidade do que ser arauto do próprio mérito e fazer ecoar por toda parte os seus próprios louvores? Haverá, talvez, quem reconheça melhor em mim o que eu mesma não reconheço.
Sou eu mesma, como vedes: sim, sou eu aquela verdadeira dispenseira de bens, a que os latinos chamam Stultitia e os gregos, Moria. E que necessidade haveria de vo-lo dizer? O meu rosto já não o diz bastante? Se há alguem que desastradamente se tenha iludido, tomando-me por Minerva ou pela Sabedoria, bastará olhar-me de frente, para logo me reconhecer a fundo, sem que eu me sirva das palavras, que são a imagem sincera do pensamento. Não existe na vaidade simulação alguma, mostrando-me eu por fora o que sou no coração. Sou sempre igual a mim mesma, de tal forma que, se alguns dos meus sequazes presumem não passar por tais, disfarçando-se sob a máscara e o nome de sábios, não serão eles mais do que macacos vestidos de púrpura, do que burros vestidos com pele de leão.
Mas retomemos o fio do raciocícinio. Portanto, sabeis agora o meu nome, homens, VAIDADE! Mas que epíteto poderei aplicar-vos? Sem dúvida, o de estultíssimo! Que vos parece? Poderia, acaso, a deusa Vaidade dar epíteto mais digno aos seus adoradores, aos iniciados nos seus mistérios?
Por tudo isso, observai, senhores, que, quanto mais o homem se afasta da vaidade, tanto menos goza dos bens da vida, avançado de tal maneira nesse sentido que logo chega à fastidiosa e incômoda velhice, tão insuportável para si como para os outros. E, já que falamos de velhice, não fiqueis aborrecidosse por um momento chamo parra ela a vossa antenção. Oh! como os homens seriam lastimáveis sem a vaidade, no fim dos seus dias!
Penso, a velhice tem muito com a juventude. A juventude tem muito com a idade infantil e consequentemente com os bebês. Bebês tem muito com o sexo. Mas, não quero acreditar que o belo sexo tolo ao ponto de se aborrecer comigo pelo que eu lhe disse, pois também sou mulher, eu sou a Vaidade. Ao contrário, tenho a impressão de que nada pode honrar tanto as mulheres como associá-las à minha glória (vaidade), de forma que, se julgaram dierto as coisas, espero que saibam agradecer-me o fato de que eu as ter tornado mais felizes do que os homens.
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