7 de outubro de 2008

São Tomás de Aquino – vida e obras

São Tomás de Aquino foi chamado o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios, mostrando um raro brilhantismo nos primeiros estudos,era calado e reservado,além disto não apreciava perder tempo com conversas inúteis,por isto um de seus amigos o chamou de "o boi mudo". Este companheiro, certo dia, levou a Alberto Magno uns apontamentos de Tomás e foi nesta ocasião que Alberto proferiu a frase que se tornou célebre, pois era uma profecia que se realizou: “Chamais Tomás de “o boi mudo”, mas vos asseguro que seus mugidos ouvir-se-ão por toda a terra”. De fato, até hoje são inúmeros os seguidores de S. Tomás, chamados tomistas. Sua biografia não apresenta momentos dramáticos, podendo ser sintetizada nas etapas principais de uma vida inteiramente dedicada á meditação a ao estudo. Nascido no castelo de Roccasecca, perto de Aquino(Reino das Duas Sicílias),em 1225, S.Tomás estudou inicialmente sob orientação dos monges beneditinos da Abadia de Montecassino ,foi enviado a este mosteiro para estudar quando tinha apenas 5 anos.
Em 1244, ingressou na Ordem dos Dominicanos.Um ano depois encontra-se em Paris, onde continua a formação com Alberto Magno.De 1248 a 1252, permanece em Colônia, ainda dedicado aos mesmos estudos, até que volta a Paris e prossegue as atividades universitárias, culminando pela obtenção do título de doutor em teologia,em 1259. Nesse ano retorna á Itália e leciona em Agnami, Orvieto,Roma e Viterbo.De 1269 a 1272, exerceu em Paris as funções de professor.
Retornando á Itália, veio a morrer no convento dos cistercienses de Fossanova,não muito longe da cidade natal,no dia 7 de março de 1274, com apenas 49 anos de idade.
S. Tomás foi um trabalhador incansável e um espírito metódico,que se empenhou em ordenar o saber teológico e moral acumulado na Idade Média,sobretudo o que recebeu através de seu mestre Alberto Magno.Como resultado, produziu extensa obra, que apresenta mais de sessenta títulos.As mais importantes são os Comentários Sobre as sentenças, provavelmente redigidos entre 1253 e 1256,em Paris; Os Princípios e o Ente e Essência, da mesma época, a Súmula Contra os Gentios e as Questões Sobre a Alma, compostas, ao que tudo indica,entre 1259 e 1264.
Questões diversas, começadas em 1263, e finalmente a Summa Teológica, sua obra mais célebre, apesar de não concluída.
Em todas elas está sempre presente uma vasta erudição, não haurida diretamente nas fontes,pois S. Tomás não conhecia nem o hebraico, nem o grego,nem o árabe. Limitado ao latim, conheceu e utilizou, porém inúmeros autores profanos (Eudóxio,Euclides,Hipócrates,Galeno,Pitolomeu), os filósofos gregos,sobretudo Platão e Aristóteles,os árabes e judeus(AlFarabi,Avempace,Al Ghazali,Avicebrom,Avicena,Averrróis,Israeli),e escolásticos,como Anselmo,Bernado de Clairvaux,Pedro Lombardo. Mas foi principalmente influenciado por Santo Agostinho e,mais ainda, por Alberto Magno,seu mestre em Paris

Antecedentes de São Tomás de Aquino

O século XIII é considerado atualmente como o século de São Tomás de Aquino. Todavia, o êxito do tomismo na Igreja contemporânea não deve iludir o historiador da Idade Média, época que se caracterizou por uma intensa fecundidade especulativa e conheceu outras orientações doutrinais, com as suas obras-primas; o conhecimento de São Tomás de Aquino, homem de um século, e da sua doutrina só pode ganhar com o conhecimento dos outros homens e das outras doutrinas, que corresponderam à mesma situação histórica. O tomismo foi pensado demasiado em abstrato: tem de se analisar São Tomás e seu tempo e restituir a esse tempo a sua diversidade intelectual. Falaremos de Roberto Grosseteste e de Roger Bacon, mestres em Oxford, da escola franciscana de Paris, que desemboca em S. Boaventura e, por fim, de pensadores que depois de S. Tomás, se situam fora do tomismo.
Oxford, no século XIII, continua Chartres do século XII, no seu esforço de cultura enciclopédica no seu apego às disciplinas do quadrivium renovadas pelo contributo árabe. Continuadores de Abelardo de Bath garantem à Inglaterra uma erudição científica que, no inicio do século XIII, não se encontra no continente.
Um esforço típico de conhecimento metódico atrai a atenção: a ótica ou perspectiva do árabe Al-Ghazali (965-1039), famosa tanto pela teoria da luz como pela análise da percepção. Esta obra do matemático, traduzida por volta de 1200, transporta os espíritos para um clima diferente do da Física de Aristóteles. Os que apreciaram parecem-nos voltados para o futuro da ciência. Não os retiremos, porém, da época em que viveram.
Daqui podemos ter uma noção de como foi o século XIII pré e até mesmo pós S. Tomás.
A influência de Avicena misturava-se com a de Santo Agostinho; mesmo quando não se separava o intelecto agente, reclamava-se a existência de uma iluminação divina para todo o conhecimento correto. Com tudo isso vamos imaginar S. Tomás neste cenário.

Pensamento de S. Tomás de Aquino

S. Tomás, pensa num principio interior, numa natureza que executa a sua própria obra. Deste ponto de vista, o intelecto agente torna-se uma parte da alma, multiplica-se com as almas individuais, em vez de permanecer único na sua transcendência. Inteligência ou Deus “Porque não parece provável que na alma racional não haja um princípio através do qual ela possa executar a sua operação natural: como acontece quando se fala apenas de um intelecto agente, chama-se lhe Deus ou Inteligência”.
Existe muitos pensadores que manifesta seu pensamento desta forma. Eis uma exigência que não será satisfeita substituindo a Inteligência dos Árabes pelo Verbo. S. Tomás vê que houve cristãos que conciliaram o avicenismo com o Evangelho de João: a doutrina árabe da Inteligência separada não pode defender-se segundo a fé. Foi por isso que alguns doutores católicos, corrigindo esta opinião e seguindo-a em parte, admitiram como bastante provável que o próprio Deus seja o intelecto agente, porque, ao unir-se a eles, a nossa alma encontra a beatitude e confirmam esta idéia apoiando-se em João 1,9, onde diz que Ele (Deus) era a verdadeira luz que ilumina todos os homens.
Nota-se aqui a consciência nítida da situação histórica: do ponto de vista da fé.
S. Tomás compreende e aprecia o agostianismo avicenizante. Para o rejeitar, só tem uma noção da natureza constitutiva de todos os seres. Cedamos à força desta idéia e deixaremos de falar da iluminação cara a Santo Agostinho quando fala de Deus intelecto agente.

Tomás de Aquino e a Metafísica

A posição de S. Tomás nos coloca diante da física aristotélica. Os corpos são compostos se matéria e de forma; mesmo inanimado, qualquer ser concreto inclui um princípio de atividade, comparável a uma tendência, à própria vida: a natureza do fogo faz
com que ele aqueça, a do homem fá-lo gerar o homem. Cabe aqui o olhar das formas substanciais.
Para ilustrar vamos tomar o pensamento de Platão no seguinte âmbito. Platão separou indevidamente as formas dos seres para transformar em Idéias e que, por conseguinte, na sua doutrina, as coisas converteram-se numa matéria passiva: a atividade que elas apresentam aos sentidos deve ser atribuída a algum princípio transcendente: Idéias, Inteligência ou o próprio Deus, pouco importa; seja como for, os seres sensíveis são esvaziados de uma parte essencial da sua realidade, em proveito de um além.
S. Tomás faz derivar de Platão todos os pensadores que, cedendo a este movimento, roubam aos seres naturais as ações que lhe são próprias. Assumindo, com Aristóteles, a atitude inversa, mantém a realidade deste mundo. Assim, no âmbito da noética: parte da alma, o intelecto agente pertence à forma de um corpo; o homem de S. Tomás é um ser natural que, mesmo no conhecimento, mantém a sua ação própria. Neste sentido pode-se chamar de naturalismo o que S. Tomás escolheu em Aristételes, por oposição a Avicena.
Imaginemos que S. Tomás, ligado ao naturalismo aristotélico, vê na idéia de Deus algo que possa fundamenta-lo; teremos um momento decisivo do seu pensamento.
Gilson nos apresenta de uma forma brilhante. Ele diz: imagina um mundo de causas segundas eficazes, como o de Aristóteles, é o único digno de um Deus cuja causalidade é essencialmente bondade.
Mas dizer que Deus é tal é o mesmo que dizer que não é ele uma essência qualquer, tal como o Uno, o Bem, o Pensamento, ao qual, posteriormente, se atribuiria a existência. Nem mesmo um eminente modo de existir, tal qual a Imutabilidade ou a Necessidade, que se atribuiria a seu ser, qual característica de sua própria realidade: é dizer, na verdade que o “Existir, como tal (Ipsum esse) é colocado, em si mesmo e sem adição alguma, visto que tudo aquilo que se lhe pudesse acrescentar, determinando-o, seria uma limitação de sua própria essência”.
Esse impulso de generosidade que identifica as criaturas com o criador decerto encontrado pelo S. Tomás do século XIII nos textos do Pseudo-Dionísio, onde se ensina que a mais divina de todas as coisas é tornarmo-nos colaboradores de Deus.
No âmbito do criado, há uma pluralidade de atos existenciais, finitos e participados, á medida que atualizam uma determinada essência. O ato existencial é, na verdade, esta energia metafísica, como o chama Gilson, que penetra no mais íntimo do ser e o faz existente, que é conseqüentemente ai, a condição de existência de toda perfeição essencial e de toda operação, eis que sem ele nada existe e nada opera, ato último, derradeira perfeição do ser é ele, ao mesmo tempo, pressuposto de todos os atos e de todas as perfeições.
Note-se finalmente, que é, a partir deste núcleo central que se estruturam as teses fundamentais que integram a vasta síntese filosófica de S. Tomás: as propriedades transcendentais do ser, a divisão do ser em substancia e acidente, o conceito de suposto, hipóstase e pessoa (hipóstase racional), a teoria da causalidade, na ontologia, a composição de matéria e forma, quais princípios intrínsecos de todo ser corpóreo, a hierarquia das formas substanciais, em filosofia natural, a teoria da alma espiritual e, conseqüentemente imortal, qual forma substancial do corpo, a colaboração do conhecimento sensível e da inteligência humana na constituição do conhecimento, assim do apetite sensível e da vontade na explicação da ação humana, a doutrina da liberdade, qual característica dos seres dotados de razão, a colaboração da inteligência e da vontade na constituição do ato livre, no plano da antropologia e da psicologia racional. Enfim, a Realidade divina vista qual fim último do homem, em cuja posse encontra ele sua perfeita felicidade, a lei moral, entendida qual participação da lei eterna de Deus, na criatura racional e a teoria das virtudes, vistas quais meios para a obtenção do fim último do homem, que são os princípios básicos da moral tomista.

Conclusão

Em conclusão, são estas as diferenças mais relevantes entre a filosofia de S. Tomás e a filosofia grega. Por um lado, um Deus que se define por meio da perfeição em uma ordem do ser, o pensamento de Aristóteles, ou em uma ordem da qualidade, o Bem, de Platão. Por outro lado, o Deus cristão, que é o primeiro na ordem do ser e cuja transcendência é tal que, quando se trata de um primeiro motor do gênero precisa ser mais metafísico para provar que é o primeiro, do que físico para provar que é o primeiro motor. Do lado grego, um Deus que pode se causa de todo o ser, inclusive a inteligibilidade, a sua eficiência e a sua finalidade, à exceção, porém, de sua própria existência. Do lado cristão, um universo que começa com a criação. Do lado grego, um universo contingente na ordem da inteligibilidade ou do devir. Do lado cristão, um universo contingente na ordem do ser. Do lado grego, a finalidade imanente em uma ordem interior dos seres. Do lado cristão, a finalidade transcendente de uma Providencia que cria o ser da ordem com o ser das coisas ordenadas. Fora do sistema cristão, em nenhum sistema tudo esta ligada a Deus, precisamente porque, como Diz o Gênesis, “Deus criou o céu e a terra” e, como diz Êxodo, “Deus é Aquele-que-é.



Bibliografia

VIGNAUX, P. A filosofia na Idade Média. Lisboa: Editorial Presença, 1994.
CAMPOS, F. A . Tomismo hoje.São Paulo: Loyola, 1989.
REALE, G; ANTISERI, R. História da Filosofia – Antiguidade e Idade Média.v.I. 3a ed.
São Paulo: Paulus, 1990.
Os Pensadores. A seleção de obras de São Tomas de Aquino. São Paulo: Abril cultural,
1973.
http://www.consciencia.org/aquinovidigal.shtml

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