7 de outubro de 2008

Tradições e contradições sobre os sofistas

Já ouvimos falar muito a respeito dos sofistas e, quase sempre, este nome vem carregado de preconceitos.
Chamar alguém de sofista neste sentido, é chama-lo de falastrão e mentiroso, ou nas palavras do próprio memorável Sócrates, prostituto.
Mas um estudo mais apurado e honesto dos sofistas os revelarão sendo os homens que estavam preocupados com as questões do dia-a-dia.
Enquanto Sócrates e Platão estavam preocupados com a virtude, Aristóteles queria expressa-la na vida, portanto, num comportamento moral-ético.
Aristóteles se aproximava em muito dos pensamentos sofísticos, principalmente os da vida prática, ou seja, com a sua teoria social e política.
Talvez a grande contribuição dos sofistas para a Grécia tenha sido suas teorias que colocavam como o centro de estudo o homem.
Antes de sair o que tem no mundo das Idéias, se a alma é imortal, o homem deve se preocupar com o seu bem viver. E este bem viver se dá nas relações que ele estabelece, portanto a vivência da democracia e do direito.
Portanto, o homem precisa dominar a arte de argumentar-retórica. Esta não usa termos míticos e teológicos e sim laicos.
Conforme Ernest Barker: “devemos lembrar que em Atenas os tribunais eram júris populares amplos, onde a retórica e a capacidade de argumentar persuasivamente valiam muito”.
Talvez seja esta uma das grandes contribuições dos nossos sofistas.
Política e ideologia na oposição aos sofistas.
É nítida e até compreensível o desprezo que Platão e Sócrates nutriam dos sofistas.
Em primeiro lugar, estava disseminada na Grécia, e particularmente em Atenas a grande ideologia que somente o homem livre é o cidadão.
Portanto, esses professores perversos e falastrões que não estavam dentro dos pilares de Atenas, deveriam ser tratados com desprezo ou até mesmo associado como já citei a cima de prostitutos.
A política que é a grande arte grega deveria ser preservada a qualquer custo, mesmo que este precisasse de um grande corpo teórico, assim como fez Platão na sua obra A República.
Cabe aqui neste contexto apenas o homem bom e justo. Mas quem são esses homens bons e justos?
Posso classifica-los também como sendo os bárbaros que acham-se no direito de fazer o que quiser, sem levar em conta os outros.
Em contrapartida, Aristóteles era o que menos nutria um sentimento ruim em relação aos sofistas.
Este via que a aristocracia gerava uma grande disparidade social. Existiam os muito ricos e também os muito pobres, ficando no meio uma pequena parte da assim chamada classe média.
Ele defendia um ideal que hoje denominamos de distribuição de rendas. Assim não teremos uma hierarquia social gritante.
Este é um ideal sofístico, pois os homens precisam viver bem. A vida prática consiste nisso também.
Aristóteles nos diz: ...”Está claro que a melhor comunidade política é a que se baseia na classe média, e que as cidades que tem essa condição podem ser bem governadas”.
Portanto, Aristóteles fica muito próximo da concepção democrática.
Democracia sem retórica é a mesma coisa que um médico sem conhecimentos de anatomia. Só se busca acordo e delibera lei, se houver discussão.
Ora quer melhor instrumento para isso do que a retórica?
Se os sofistas eram os mestres da retórica e, a retórica instrumento da democracia, logo, Platão e Sócrates a classifica como um governo corrupto.
A democracia é a mãe do grande animal (do povo não instruído). Somente os filósofos que buscam a verdade tem a capacidade de governar.
Da mesma forma hoje vemos que somente os doutores da Sourbonne ou das escolas de economia dos Estados Unidos é quem podem chegar a presidência ou a cargos majoritários. Platão e Sócrates perpetuam esta ideologia e mito até os dias atuais. Um bárbaro, sem “instrução” (institucionalizada) jamais poderá ser presidente e, se este chega, será combatido pelos “filósofos” (detentores da verdade) que os julga de incompetente e analfabeto.
Sem contas as inúmeras correntes de pensadores que vê o nazismo inspirado nas idéias de Platão.
Povo perfeito, puro e eleito sempre será uma concepção ideológica. Achar o outro uma ameaça é uma atitude bárbara e que nem de longe reflete um povo instruído. Ora governar por conclusões dogmáticas é problemática, pois certamente cai num totalitarismo.
O ideal seria um governo voltado para o povo, para seus anseios, suas vontades e liberdades. O eu precisa ser valorizado. O homem é a medida. A polis é constituída por homens, portanto precisa ser levado em conta isso. Nenhuma sociedade se dá através de concepções ideais e imutáveis. Se assim for, apenas alguns conseguiram sair da caverna.
O homem precisa olhar para o céu, entender a sua vida, saber o que é bom para ele, medir as conseqüências e andar sempre para frente.
A título de conclusão. O primeiro modelo adotado por Platão e Sócrates busca entender a natureza humana de acordo com seus paradigmas, os sofistas procuram resgata-las e realiza-la.

Referência bibliográfica
SOARES, Isaar de carvalho. Afinal, quem era mas ou menos sofista? Revista da faculdade de direito n.o 1- 2003-2004.

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