4 de fevereiro de 2009

Entrevista exclusiva com Barack Obama

O recém-eleito presidente da república dos EUA, Barack Obama, assume o cargo oficialmente hoje, dia 20 de janeiro de 2009, e se muda para a Casa Branca.

O homem mais observado do mundo falou, em entrevista exclusiva concedida a Christianity Today em janeiro do ano passado durante as eleições, sobre o papel da fé na política desde junho de 2006.

Barack Obama também procurou esclarecer as falsas informações que circularam por e-mails o descrevendo como muçulmano, além de falar sobre sua fé, sobre aborto e sobre o voto dos evangélicos.

CHRISTIANITY TODAY - Qual é, em sua opinião, o maior obstáculo para conseguir o voto dos evangélicos?
BARACK OBAMA - Eu acredito que existem coisas na relação entre os democratas e os evangélicos que precisam mudar. Os democratas não têm aparecido. Por isso, os evangélicos muitas vezes acreditam que eles rejeitam tudo o que diz respeito à fé. Parte do meu trabalho nesta campanha, e eu tenho feito isso desde antes da campanha, é de garantir que eu estou alcançando as pessoas e compartilhando minha fé com aqueles que também a possuem. Se Deus quiser, conseguiremos, juntos, “construir algumas pontes” para que a nação continue a avançar.

O que o senhor fará no governo que chamará a atenção dos evangélicos?
Eu sei que, como presidente, quero celebrar a riqueza e diversidade de experiências religiosas em nossa nação. Acredito que seja importante encorajarmos igrejas e congregações ao redor deste país a se envolverem na reconstrução de suas comunidades. Uma das coisas que eu tenho pensado insistentemente é na possibilidade de estruturarmos programas de base religiosa que provem ser bem sucedidos – como dependência de tóxicos ou ministérios em prisão – sem violarmos a igreja e o estado. Nós devemos nos assegurar de que eles estão reconstruindo a vida das pessoas mesmo que elas não pertençam às suas congregações. Esse é o tipo de envolvimento que muitas igrejas estão buscando, inclusive a minha. Pode fazer uma diferença significativa na vida das pessoas ao redor do país.

Então, o senhor pretende manter funcionando o escritório de base religiosa e iniciativas comunitárias da Casa Branca ou planeja reestruturá-lo?
Eu gostaria, na verdade, de ver como esse escritório tem funcionado. Creio que as igrejas têm de estar conscientes de que se o governo federal começa a tocar a música, elas precisam entrar no ritmo. Isso pode, em longo prazo, ser uma violação à liberdade religiosa. Portanto, eu quero ver primeiro como esse dinheiro tem sido aplicado pelo escritório, antes de me comprometer a manter as coisas funcionando de uma forma que julgo não ser a melhor.

Uma das críticas ao escritório de base religiosa do governo de Bush – além da questão da igreja e do estado - é que enquanto aberta para a competição entre as organizações religiosas e as diferentes igrejas para receber apoio, não houve aumento no apoio concedido. Não houve mudança no valor dos fundos de apoio. Ao invés disso, houve um número maior de organizações competindo pelo mesmo “pedaço da torta”.
Creio que essa crítica seja verdadeira. Sempre há perigo nessas situações nas quais o dinheiro está baseado na política, ao invés de estar no mérito e no conteúdo. Isso não compromete apenas o governo. Mais do que isso, compromete as organizações religiosas.

Para muitos evangélicos, aborto é um fator chave na definição de seu voto. O senhor votou contra a proibição parcial do aborto e contra a notificação dos pais de menores que fazem aborto. Que diretrizes o senhor acha que um presidente deve tomar ao criar planos relacionados a este assunto?
Não conheço ninguém que seja pró-aborto. Creio que seja muito importante começar com essa premissa. Penso que as pessoas reconhecem o quanto esse assunto é delicado, difícil. Eu acredito sim que aqueles que minimizam os elementos morais de uma decisão como essa não estão expressando a total realidade desta questão. Contudo, eu creio que as mulheres não tomam essa decisão casualmente. Elas lutam bastante junto com seus pastores, maridos, médicos. Nosso objetivo é o de fazer do aborto algo cada vez menos comum, de desencorajar gravidez indesejada e de encorajar a adoção sempre que possível. Há muitas formas pelas quais nós podemos ensinar nossos jovens sobre a sacralidade do sexo, ajudando-os a não promover esses encontros casuais que têm resultado em tanta gravidez indesejada.
No final das contas, a mulher é quem está mais bem preparada para tomar uma decisão sobre esse assunto. Por exemplo, nós podemos dizer legitimamente – o estado pode dizer legitimamente – que nós proibimos o aborto, desde que não comprometa a saúde da mãe. Os itens nos quais eu votei contra – mencionados na pergunta – não tinham essas exceções, que suscitam importantes implicações e questionamentos se existe uma mãe com sua saúde em risco. Essas são questões acerca das quais eu penso que nós – governo – não podemos decidir unilateralmente. Penso que devam ser tomadas em conjunto com médicos, debaixo de oração e de consulta à sua própria consciência. Acredito que essa questão deve ser decidida pela própria pessoa.

O senhor falou sobre sua experiência enquanto caminhava pela igreja Trinity United Church of Christ e se ajoelhou diante da cruz, teve seus pecados perdoados e se submeteu à vontade de Deus. O senhor se considera um nascido de novo?
Sou um cristão, um cristão devoto. Creio na redenção através da morte e ressurreição de Cristo Jesus. Acredito que a fé me mostra um caminho de limpeza de meus pecados e de garantia da vida eterna. Todavia, acima de tudo, creio no exemplo de Jesus ao alimentar o faminto, curar o doente e priorizar o menor diante dos poderosos. Eu não me desviei da igreja, como costumam dizer. O que houve foi um grande despertamento para que eu percebesse a importância de todas estas coisas em minha vida. Eu não quero caminhar sozinho em minha jornada. Ter aceitado Jesus em minha vida foi um poderoso guia para meus valores, conduta e ideais.
Existe algo que gostaria de mencionar que julgo ser importante. Parte do que temos visto em minha campanha são alguns emails que têm sido enviados na tentativa de denegrir minha fé. Emails dizendo que eu sou muçulmano e que fiz meu juramento no senado com a mão sobre o Alcorão ou que eu não jurei fidelidade à bandeira. Julgo ser importante informar aos seus leitores que sou membro da mesma igreja há vinte anos e que nunca pratiquei o Islã. Eu respeito essa religião, mas ela não é a minha. Algo importante em nossa geração é não usarmos a religião como uma ferramenta política e não mentirmos a respeito de nossas convicções religiosas apenas para obtermos votos. Estou falando isso apenas para acabar com os rumores que têm circulado na internet. Nós temos esclarecido esta questão constantemente, mas é o jogo político de alguém que está tentando nos confundir e confundir o povo a nosso respeito.

Há alguma especulação da dimensão da distribuição deste e-mail?
Essa é uma infeliz tática que também foi usada contra John McCain em 2000. Nós temos que continuar a combatê-la. Obviamente, ela tem sido divulgada de forma sistemática. Vocês, inclusive, poderiam ajudar a combatê-la publicando a verdade a esse respeito.

Fonte: Cristianismo Hoje

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