12 de setembro de 2009

Exegese do livro do Gênesis 1-3

a) A humanidade, ponto alto da criação (1,1-2,4 a)
A narrativa da criação apresentada no início do livro do Gênesis não é um tratado cientifico, mas um poema que contempla o universo como criatura de Deus. Sua origem é atribuída à fonte sacerdotal e ele é mais abstrato e mais teológico que a segunda narrativa (Gn 2,4b-25).
O relato da origem do universo contida em Gn 1,1-2,4 a nasce durante o exílio na Babilônia (586-538 a.C) e procura dar uma classificação lógica e exaustiva dos seres criados. No contexto do exílio, os judeus corriam o risco de perder a própria identidade, cultura e religião e assimilar o ambiente estrangeiro com os seus deuses e crenças.
A origem do universo é estruturada no esquema da semana. A criação procede em clima ascendente: no 1º dia fez a luz (1,1-15); no 2¬º dia fez o céu (1,6-8); no 3º dia fez o mar, a terra e as plantas (1,11-13); no 4º fez os astros (1,14-19); no 5º dia criou os peixes e os pássaros; no 6º dia criou os animais terrestres homem. No 7º dia “ Deus terminou todo o seu trabalho e Ele descansou de todo o seu trabalho” (2,2).
Esta narrativa destaca alguns aspectos como a existência de um único Deus vivo e criador; que o ponto mais alto da criação são o homem e a mulher, criados à imagem e semelhança de Deus (1,27) e a humanidade é chamada a dominar e a transformar o universo; que o ritmo da vida é trabalho e descanso (2,1-2). É importante destacar que toda a criação é marcada pelo selo de Deus: “era bom...muito bom” (1,31).

b) A humanidade é centro da criação (2,4 a-25)
Esta segunda narrativa da criação é. Cronologicamente, anterior à primeira. Ela foi elaborada no tempo do rei Salomão (971-931 a.C), entre nômades que viviam no deserto, e é de tradição javista.
Esta narrativa começa a partir da terra seca ou deserto (2,4b-7). Por isso imagina, como início da criação, a chuva. O próprio homem nasce da terra e é formado por Deus para ser um colaborador de Deus na tarefa de fazer a terra produzir e alimentar a vida (2,7).
Os v.8-17 narram a história do jardim do Éden, para onde confluem os maiores rios da terra conhecidos naquela época. Ao homem cabe cultivar e guardar o jardim fértil (2,15).
Os v.18-25 destacam duas coisas: primeiro, o fato de o homem dar nome aos animais mostra a sua relação com o mundo criado: é ele que dá sentido e endereço a todos os seres da natureza. Um segundo aspecto que aparece é que a mulher é formada a partir do lado do homem e da mesma substância. Em outras palavras, o homem e a mulher foram feitos um para o outro, com a mesma dignidade.

c) A ambigüidade humana (3,1-24)
Depois do relato da criação segue o cap. 3 que procura explicar a origem do mal. O centro da questão é a pretensão de ser como Deus (3,5). A serpente é um resumo da pretensão que leva o homem à auto-suficiência, ocupando o lugar de Deus, para dominar e explorar os outros. O homem sonha possuir liberdade e vida plena. Na sua auto-suficiência, porém, ele produz escravidão e morte.
O pecado está no fato de o homem absolutizar o seu pequeno discernimento, como fosse o discernimento absoluto. O pecado, portanto, é uma ruptura com o projeto de Deus. As relações de fraternidade transformam-se em relações de poder e opressão. Deste modo as relações ficam distorcidas e fragilizadas, tanto das pessoas entre si como das pessoas com a natureza. A humanidade terá que aprender a superar a auto-suficiência para sanar esta ruptura e chegar novamente à vida em plenitude. A divisão provocada pelo pecado atinge e mina também o trabalho que, de condição humana normal, de resposta ao chamado divino, passa a ser visto como um fardo penoso que temos que suportar (3,19). Assim o homem, de jardineiro e guardião do paraíso, é transformado em cidadão que deve cultivar a terra com duras fadigas.

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