22 de janeiro de 2011

Filósofo diz que mensagens em muros são “atos políticos”

O grafite é uma realidade em cidades do mundo inteiro, e em Manaus não é diferente. Uma forma de expressão contestada por alguns, mas também defendida por outros.


Manaus - Mensagens feitas em grafite em muros de escolas, empresas e residências, com alusões a acontecimentos políticos nacionais e locais ou mesmo reflexões sobre questões familiares e culturais, além de citações famosas, já fazem parte da paisagem urbana da cidade de Manaus. Algumas dessas mensagens estão em grandes avenidas, como é o caso da Avenida Noel Nutels (zona Norte), Camapuã (zona Leste) e André Araújo, e outras em ruas nem tão movimentadas, como algumas situadas no bairro Parque Dez (zona Centro-Sul).
Para o professor Paulo Monte, chefe do departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), as mensagens feitas em grafite são manifestações representativas de anseios políticos de seus autores anônimos, popularmente conhecidos como “grafiteiros”, no sentido amplo do conceito. Para explicar o fato, Monte recorre a um dos filósofos mais importantes da História, Aristóteles, que viveu entre os anos 500 e 400 antes da era cristã.
“O homem é um animal eminentemente político, como diria Aristóteles. O fato de afirmar um sim ou um não é um ato político. Vivemos uma vida onde as coisas estão entrelaçadas, e eu não posso separar uma coisa da outra. O lado econômico depende da estrutura política, por exemplo. E essa manifestação é também um ato político”, explica.
Ele classifica como essencialmente “artística” este tipo de manifestação e, por isso, pode ser vista como revolucionária, pois transmite a vontade popular. “A arte é revolucionária e quem picha na rua faz arte. Mas me refiro a quem faz arte na rua, e não à depredação. A verdadeira arte é polêmica. Ela tem de abrir polêmica, porque ela pode mexer com os sentimentos dos outros”, avalia.
Monte cita dois exemplos observados por ele próprio há alguns anos. “Lembro de duas mensagens, sendo uma parte de uma famosa citação do escritor Manoel Bandeira e outra que nunca havia lido antes”, diz, referindo-se, no primeiro caso, a um grafite localizado no Centro histórico de Manaus, com os dizeres “... e só nos resta dançar um tango argentino” e outro nas proximidades da Avenida Getúlio Vargas, que dizia “... e as minhas cinzas adubarão o pasto. E o gado que nele pastar viverá para sempre”.

Liberdade de expressão
O professor legitima a ação, ainda, como um exemplo de liberdade de expressão. “Todo tipo de expressão é positiva. Todo mundo tem o direito de colocar pra fora o que pensa, o que sente. É melhor que morrer engasgado com o que pensa. O povo tem todo o direito de expressar o que quiser, a hora do quiser. Os empresários não botam outdoor, sujando a cidade, já que aquilo não tem arte? Por que a população não pode com sua arte?”, questiona.
Monte diz ainda que a aceitação à atividade, independente do gosto pelo trabalho, seria um passo para a quebra de preconceitos. “Tá na hora de acabar com os tabus e preconceitos. Muitas vezes, eles (os grafiteiros) fazem verdadeiras obras de arte visual. Pegam um muro horroroso e fazem obras de artes geniais. Deixa o pessoal falar, blasfemar, maldizer. O bonito é isso, é a diferença. Temos que saber conviver com as opiniões diferentes”, opina o professor de filosofia.

Opiniões
A reportagem do Portal D24am ouviu algumas pessoas que passavam perto de alguns locais com mensagens.
A vendedora autônoma Raimunda Sousa, de 45 anos, aprecia as mensagens grafitadas em muros, mas com restrições aos locais usados. “Eu não tenho nada contra. Tem algumas mensagens que são construtivas, outras evangélicas e outras não. Mas tem quem leve para o caminho do mal. Mas eles (os grafiteiros) devem ver como arte. Já vi várias frases bonitas.  Só acho que nas escolas eles deviam respeitar. O muro das universidades também”, diz.
Mas há quem não concorde com os grafites. O industriário Marcos Cardoso diz que este tipo de atividade representa “vandalismo”. “Acho que não pode isso, é vandalismo. Eles têm que encontrar locais adequados”, afirma.
Sobre as opiniões divergentes sobre este tipo de atividade, o professor Paulo Monte cita o pensador francês François-Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo Voltaire. “Posso não concordar com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo”, cita.

Colaborador: Rodney Eloy

Fonte:d24am

Um comentário:

Anônimo disse...

creio que a questão em destaque deva servir de apoio para questões muito mais complicadas que essa, morei em Manaus por 4 anos e em determinado momento tive a idéia de que o grafite ou até mesma a pixação poderiam ser alguns dos subterfúgios para uma crítica efetiva às descrepâncias que enchergamos em uma cidade tão importante, mas ao mesmo tempo tão abandonada a um descaso político e empresarial. O problema em si do grafite deveria ser colocado claramente como uma manifestação de insatisfação daqueles que realmente não suportam uma realidade de verdadeiro abandono e falta de respeito em todos os aspectos ao ser humano, que é colocado em muito à parte do que merecia. O desconforto de ver que a injustiça estava longe de ser sanada pelas autoridades e que muito pelo contrário, era usada para maquiar os feitos demoníacos em uma sociedade que não tem nenhuma base estudantil para reclamar seus direitos causa dor a quem olha um pouca além. creio que acima de um ato de vandalismo, é um grito desesperado de alguns, comparados a desesperados e sem pernas tenta desabafar o desespero de um lugar onde apesar da calamidade social ser maquiada atrás de uma mascara alegre a mesma é evidente e terrível.